Brexit

Reino Unido barra imigrantes sem qualificação e sem emprego

Nova política também veta entrada de quem não fala inglês. Empresas e oposição criticam restrições e alertam para falta de mão-de-obra no país

Qui, 20/02/20 - 06h00
O conservador Boris Johnson (foto), fará nesta sexta-feira (15) e no sábado (16) vários discursos no norte da Inglaterra | Foto: John Stillwell / POOL / AFP

A  rejeição aos imigrantes sempre esteve por trás do Brexit e o governo Boris Johnson não demorou para confirmá-la. Divulgadas ontem, as novas regras – que regulamentarão o acesso ao mercado de trabalho do Reino Unido a partir de janeiro de 2021 – atribuirão pontos para qualificações, salários e profissões específicas e concederão visto apenas para quem tiver pontos suficientes (veja abaixo como os pontos são somados). Trabalhadores da União Europeia e de fora dela serão avaliados da mesma forma.

Segundo o documento, para acessar o mercado de trabalho britânico será necessário um contrato de trabalho prévio, cujo salário deve ser de pelo menos 31 mil libras (R$ 135,4 mil) por ano. O limite é reduzido para cerca de 25 mil libras por ano (R$ 109,2 mil) se forem setores especialmente carentes de mão de obra, como enfermagem.

A publicação da medida causou protestos na oposição trabalhista e nos setores empresariais que dependem de mão de obra estrangeira. Até agora, a economia britânica se nutriu de funcionários de outros países da UE para cargos como garçons, funcionários de hotéis, trabalhadores agrícolas, empregados de fábricas de processamento de alimentos ou trabalhadores da indústria pesqueira.

“Os empregos que o governo considera de “baixa qualificação” são vitais para o crescimento e a estabilidade das empresas. Essa medida ameaça o fornecimento de todo o pessoal necessário para oferecer aos cidadãos os serviços dos quais eles dependem”, disse Tom Hadley, diretor da empresa de contratação Confederação de Recrutamento e Emprego.

A maior associação patronal do Reino Unido, a Confederação da Indústria Britânica, foi mais cautelosa ao criticar as medidas anunciadas pelo governo, embora tenha alertado para os problemas que as novas regras podem causar em determinados setores. Sua presidente, Carolyn Fairbairn, parabenizou o fim do limite ao número de trabalhadores qualificados que podem entrar no país, mas alertou para “as dificuldades que algumas empresas terão para contratar o pessoal necessário para permanecerem operantes”.

A porta-voz da oposição trabalhista, Diane Abbott, chamou o anúncio de cínico: “A maioria das pessoas que hoje vem ao Reino Unido já fala inglês. Vamos realmente vetar os gênios da matemática porque seu nível de inglês não é aceitável? É uma medida desumana e prejudicial”, disse Abbott.

Para o governo de Boris Johnson, a proposta é uma maneira de forçar as empresas a investirem mais no treinamento de seus funcionários e no desenvolvimento tecnológico. 

Enquanto isso...
Decididos a alcançar uma União Europeia (UE) climaticamente neutra e a impulsionar sua indústria militar, dirigentes europeus vão tentar nesta quinta-feira estabelecer cifras ao porvir do bloco sem o Reino Unido, em uma cúpula tensa consagrada a seu futuro orçamento comum, no Marco Financeiro Plurianual 2021-2027 (MFP).

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