Saúde

Hipertensão atinge mais de 30% da população da brasileira

Doença é silenciosa e não tem cura, mas tratamento medicamentoso e mudanças de hábitos garantem mais qualidade de vida

Publicado em 06 de maio de 2021 | 22:20

 
 
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Caracterizada pela elevação sustentada dos níveis de pressão arterial, acima de 140/90 mmHg (milímetros de mercúrio), popularmente conhecida como 14/9, a hipertensão é considerada uma doença silenciosa, que não provoca sintomas na maioria dos casos – o que torna ainda mais difícil o diagnóstico. Dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia apontam que cerca de 30% da população brasileira é acometida pela popular pressão alta.

A doença é uma das principais causas de morte no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, em 2019, cerca de 24% dos brasileiros com mais de 18 anos tinham pressão alta. Para quem tem mais de 60 anos e menos de 65 a proporção chega a 47% e atinge pelo menos seis a cada dez pessoas com mais de 75 anos.

Segundo a entidade, a hipertensão está associada ainda a 45% das mortes por doenças cardiovasculares, cerca de 400 mil por ano no Brasil. Já o indicador do número de mortes por doenças cardiovasculares (Cardiômetro) aponta que, em 2021, até o dia 28 de abril, as doenças cardiovasculares mataram 130.023 pessoas no país.

Alerta
A família do economista e empresário da construção civil Francisco de Araújo Moreira Gontijo, 66, sentiu na pele a complexidade da doença ao enfrentar com ele os problemas causados pela hipertensão por mais de 20 anos. Gontijo faleceu, no dia 10 de março, em decorrência de um infarto fulminante. 

Nos últimos anos, a pressão arterial, mesmo com o uso de medicamentos, se mantinha em nível acima do normal. “Ele descobriu a hipertensão em exames mesmo de rotina e fazia controle anualmente. Nos últimos três anos, passou a ser a cada seis meses porque a pressão não abaixava. Teoricamente, quando você toma os remédios, ela tem que normalizar, e, já há algum tempo, não estava mais assim. Ele chegou a emagrecer 14 quilos, a pressão abaixou um pouco, mas, mesmo assim, ainda estava elevada”, contou a empresária e turismóloga Raquel Rodrigues Gontijo, filha de Francisco.

Por conta disso, ele chegou a ir a outros especialistas, além do cardiologista. “Foi no nefrologista, porque pensavam que poderia ser problema nos rins, e também no endocrinologista. Mas, apesar de a pressão arterial ficar mais elevada que o normal, ele nunca precisou de ir ao hospital especificamente por causa disso. E, como ele também tinha diabetes, tomava uns sete, oito remédios por dia para controlar. Além disso, precisou mudar um pouco os hábitos, sendo aconselhável a fazer atividade física, reduzir comida gordurosa, entre outras coisas”, completou a dentista Ronilce Rodrigues Gontijo, esposa de Francisco.

Ela alerta que é preciso ficar atento. “Tem que cuidar para não ter muitos problemas”, concluiu.

Covid afeta ainda mais os hipertensos

Existe crença popular que diz que dor de cabeça é sinal de hipertensão. Porém, segundo o cardiologista André Francisco Moura Coelho, que atua na área há 32 anos, a dor não faz a pressão subir e, quando surge, geralmente está associada ao estresse físico ou orgânico. “Quando a dor surge é sinal que já existe uma lesão de algum órgão ou alguma complicação. Por isso, para averiguar a pressão é importante que a pessoa não esteja se sentindo mal no momento de aferi-la”, pondera.

De acordo com Coelho, o ideal é que a população acima dos 30 anos, afira a pressão pelo menos três vezes por ano, principalmente quem tem histórico familiar de hipertensão. “A doença não tem cura, mas é possível garantir mais qualidade de vida com o tratamento medicamentoso, sem negligenciar o estilo de vida. Muita gente não sabe, mas 40 minutos de caminhada diariamente é muito mais eficaz do que retirar o sal da comida, como se acredita. É interessante reduzir a quantidade, mas quando a comida perde o sabor, as pessoas passam a comer mal e pioram”, afirma.

O cardiologista ainda ressalta que diante do contexto da pandemia da Covid-19, os hipertensos estão no grupo de risco, uma vez que, os primeiros estudos mostram que ao entrar em contato com o corpo humano, o vírus pode afetar o músculo cardíaco. “Em um coração sobrecarregado, como no caso do paciente com hipertensão, o vírus pode entrar nas células com mais facilidade e tornar a infecção ainda mais grave. Por isso, além das medidas de biossegurança, é importante que a medicação não seja suspensa”, disse.