Acilio Lara Resende

Acílio Lara Resende é jornalista e escreve às quintas-feiras

A obsessão pelas causas de nossa crise política não ajuda em nada

Publicado em: Qui, 27/07/17 - 03h00

A obsessão pelas causas da crise política por que passa o país está acabando até com a paciência de Jó. Não ajuda, só prejudica. Com ou sem Temer, precisamos de propostas. De ação. As causas estão na cara, facilmente identificáveis. O melhor seria discutir soluções viáveis, sem se deixar influenciar pela Panaceia, uma deusa grega, lembrou o jornalista, filósofo e colunista da “Folha de S.Paulo” Hélio Schwartsman. O nome significa, também, “remédio universal”. Como Schwartsman, sou parlamentarista desde criancinha, mas não considero que o regime que praticamos seja a causa de todos os males.

O historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor emérito da Universidade Paris-Sorbonne, em artigo de 2015, citado pelo colunista da “Folha” Bernardo Mello Franco, disse que “os políticos que defendem a adoção do parlamentarismo querem dar um golpe para continuar no poder sem votos. É surpreendente que essa ideia volte sempre de modo oportunista, em momentos de crise e na véspera de eleições presidenciais”. O historiador critica, com razão, o PSDB, “que nasceu parlamentarista, mas deixou a bandeira de lado após a primeira eleição de FHC”. Talvez seja este seu maior erro, diria eu.

E o motivo, como sempre, é um só: no poder, os tucanos encantaram-se com a possibilidade de permanecer nele por, pelos menos, 20 anos, como costumava alardear o então ministro Sérgio Motta.

E foi aí, certamente, ajudada pela reeleição de FHC, que começou a derrocada do Partido da Social-Democracia Brasileira, que encheu muita gente de esperança. Também sonhei com ele, mas ainda não me desencantei da social-democracia, só do partido. Que acabou concordando com o presidencialismo de coalizão. Uma criação diabólica.

Alencastro também afirmou que o parlamentarismo está sendo ressuscitado agora porque o centro-direita ainda não encontrou, por medo da eleição direta, um candidato viável ao Palácio do Planalto. Argumentou, por outro lado, que o sistema atual, que precisa ser aperfeiçoado, “garantiu ao país o mais longo período da sua história”. E, duro na queda, como crítico do presidencialismo, concluiu: “Quem iria escolher o nosso primeiro-ministro, este Congresso? Está louco...”

Discordo do historiador, que, na realidade, é contra o parlamentarismo, mas concordo com o filósofo, que disse que “é preciso cuidado para não tratar o parlamentarismo como panaceia”.

Estava meditando sobre o “virtuoso” regime, e sobre os dois plebiscitos que não o aceitaram (1963 e 1993), quando dei com o artigo do advogado tributarista Sacha Calmon no “Estado de Minas” com este título: “O presidencialismo faliu no Brasil”. Não sei se algum sistema político pode ser tão culpado assim, mas considero que a proposta que apresentou – a adoção do “semipresidencialismo vigente na França e em Portugal” –, embora não seja tão nova (FHC já a sugerira), talvez seja uma solução razoável, mas de difícil proposição.

Infelizmente, embora defenda o parlamentarismo, e embora concorde com sua “evolução” (oportuna, pois os dias são outros) por meio do semipresidencialismo, nada se fará sem uma reforma política – a mais urgente de todas. Mesmo com a Lava Jato correndo por fora ou por dentro, seria indispensável, para isso, que nossos representantes tivessem não só inteligência, mas, por um só segundo, a virtude moral da coragem. Ou isso seria areia demais para seus caminhõezinhos?

Coragem para dar fim a nosso Estado mastodôntico!

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