ACÍLIO LARA RESENDE

A surra já passou, mas a ressaca das eleições ainda continua

Somos todos passageiros de um avião, pilotado pelo presidente

Por Da Redação
Publicado em 15 de novembro de 2018 | 03:00
 
 

Confesso que minha cabeça ainda não entrou em ordem. A surra que as eleições lhe aplicaram passou, mas, além de ter deixado marcas, sofre agora com desagradável ressaca. Por ora, leitor, nada, absolutamente nada, me fará desejar algum mal ao presidente eleito. Estou de acordo com o que disse Ciro Gomes: afinal, somos todos passageiros de um enorme avião, pilotado por ele. Logo, até mesmo por instinto de defesa, pretendo torcer para que tenha saúde e acerte. Essa história de inquiná-lo de fascista é estratégia que não dará certo. A democracia brasileira tem tudo para tornar suas raízes mais profundas.

É claro que me preocupo com seus rompantes (cada vez menos frequentes, acho eu), mas, principalmente, com as irritações de seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes, que só agora terá a chance concreta de conhecer de perto a administração pública. Ele parece inteligente e capaz. Espera-se, pois, que se adapte à liturgia do cargo. A agenda que o espera e também espera Sergio Moro só contém pólvora.

Tenho procurado tirar lições dessa vitória quase incrível, mas não cheguei a nenhuma conclusão definitiva. Sinceramente, não sei se a culpa é da tal “velha política”. Nem sei se ela existe de fato. Existem políticos ruins, isso eu sei. E a causa dessa notável reviravolta talvez esteja aí. O povo tentou dizer isso a partir das manifestações que se iniciaram em 2013. Os principais partidos – PT, PMDB (agora MDB) e PSDB (este provocou grandes desilusões) – fracassaram completamente.

Esperemos que tudo seja mais bem explicado com o correr do tempo. O candidato eleito presidente da República o foi por um partido praticamente inexistente, era um deputado federal sem projeto e sem história parlamentar, quase não gastou dinheiro para se eleger (algo que jamais aconteceu neste país, um verdadeiro espanto!) e, pela primeira vez em nossa história, foi esfaqueado em plena campanha – um crime misterioso.

Um crime, leitor, que, para os mineiros mais fatalistas, só poderia acontecer em Minas, terra do comerciante, tropeiro, militar, dentista, ativista político e mártir Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, nascido na fazenda do Pombal, na Vila de São José do Rio das Mortes, que ganhou, em sua homenagem, seu apelido. Símbolo da Inconfidência Mineira, o nome de Tiradentes está no “Livro dos Heróis da Pátria” desde 21 de abril de 1992. Por coincidência, seu batizado se deu no dia 12 de novembro (dia em que escrevo estas linhas) de 1746.

Um dos sinais de que o governo de Jair Bolsonaro poderá agradar ao povo está na nomeação do juiz Sergio Moro como ministro da Justiça. Admiro o ex-ministro Ayres Britto, mas me parece equivocado (ou extremamente exigente), quando afirma que a saída de Moro dos quadros do Poder Judiciário “compromete a imagem social do próprio Judiciário”. Disse ele: “O Judiciário se define pelo desfrute de uma independência que não pode ser colocada em xeque. Se não há prazo de quarentena, deve prevalecer uma cautela, ditada pelo bom senso”.

Feita por outro jurista, a crítica de Ayres poderia sugerir inveja. Explico: Moro, aos 46 anos e com 22 de magistratura, está sendo guindado a um dos cargos mais importantes para o país. Que honra e envaidece qualquer jurista. Sua presença nesse cargo, salvo melhor juízo, é garantia certa da consolidação do Estado democrático de direito.

Enfim, estamos todos sedentos de paz e progresso!