ACÍLIO LARA RESENDE

As voltas que o mundo dá são imprevisíveis

Dizem que a violência no mundo de fato diminuiu, mas...

Por Da Redação
Publicado em 16 de maio de 2019 | 03:00
 
 

Semana passada, no dia 8 de maio, lembrei-me da minha infância. Lá se vão quantas décadas? Vi-me em 1945, ao lado de colegas, e sob o belíssimo céu azul do “Mês de Maria” (que hoje se repete com parcimônia), durante recreio de comemoração. Jogávamos para cima alguns objetos escolares, mas com a preocupação óbvia de apanhá-los antes que caíssem no chão. Se tal ocorresse, correríamos o risco de ficar sem eles. A época era outra, leitor. Sabíamos até onde poderíamos ir. Havia respeito e admiração pelos professores. Essa era a norma. Entusiasmados, com uma ou outra informação, comemorávamos o fim da Segunda Guerra Mundial. Líamos uma ou outra notícia na revista “Em Guarda”, que era sempre disputada por alunos a partir do ginásio. Nós, do curso primário, quando muito, a olhávamos de esgueira.

Coincidência ou não, por recomendação de amigos, dias antes (a data, neste ano, não foi tão comemorada), havia assistido, no Netflix, a alguns bons filmes, dos quais, sem medo de erro, destaco dois: “Amor em Tempos de Ódio” e “12º Homem” (com essa grafia). A lembrança daqueles tempos me provocou um misto de emoção e raiva.

Não creio que a humanidade passará por experiência semelhante, mesmo ciente de que as voltas que o mundo dá são imprevisíveis. Chego até a concordar com alguns entendidos quando dizem que a violência no mundo de fato diminuiu. Não podemos nos esquecer, porém, dos horrores tanto do nazismo quanto do comunismo.

Não quero fazer nenhuma comparação com o que hoje se passa não só no Brasil, mas no mundo todo, cuja violência aumenta de maneira assustadora. Não creio, porém, que o combate à violência armando a população seja o caminho. Ando aflito com esses ventos que sopram de uma direita extremamente radical. São iguais aos que já sopraram, ao longo da história, de uma esquerda igualmente radical. Nosso país não pode ser vítima, com sinal trocado, de outra paranoia.

O recente “decreto das armas”, por exemplo, é ilegal. Não teve a colaboração do ministro Sergio Moro, e, segundo o presidente Bolsonaro, apenas atende a uma das suas promessas de campanha. Aliás, quando soube do questionamento no Supremo Tribunal Federal (STF), por meio do partido Rede Sustentabilidade, o próprio presidente afirmou que, “se for mesmo ilegal, tem que deixar de existir”.

Agora, a propósito da futura indicação de Moro para o Supremo Tribunal Federal (STF), quando o presidente afirma que de fato fez um compromisso com o ministro, “porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura”, ele apenas o expõe publicamente e, pior, o constrange enormemente. E ainda dá a chance a que se entenda que o que ele quer é ficar livre de um possível concorrente nas próximas eleições, em 2022.

Enfim, algumas falas do presidente, em vez de ajudar a resolver nossos sérios problemas, têm trazido mais inquietação ao país.