Acilio Lara Resende

Acílio Lara Resende é jornalista e escreve às quintas-feiras

Acílio Lara Resende

Concedi-me um período de descanso

Publicado em: Qui, 01/04/21 - 03h00

Concedi-me, leitor, um período de descanso. Esse descanso, que não ocorria fazia tempo, carrega as baterias, leva a mais reflexões e nos retira da rotina diária. Uma rotina que se tornou ainda mais cruel nesta pandemia, pois quem deveria liderar o seu combate no país mostrou-se, como disse Fernando Gabeira, “obtusamente negacionista”. “Não é líder – continuou Gabeira – que falta, mas que joga contra”.

Hoje, após seis mudanças em “sua equipe”, alguns “amigos” o aconselham a mudar de tom e a se vacinar. “O gato subiu no telhado”.

Fiquei dias seguidos me informando “pelas beiradas”, fazendo leituras dinâmicas, lendo nas entrelinhas, fugindo (mas sem jamais o conseguir) de jornais e emissoras de rádio e televisão. Torci para que as coisas melhorassem, para que o Congresso Nacional acordasse e para que um milagre descesse sobre a mente atormentada do presidente Bolsonaro. Coisa muito difícil, sem dúvida, para quem, ao longo de anos, desde a juventude, nunca soube o que é a democracia.

A reforma ministerial, feita pelo presidente na última segunda-feira, foi de fato uma surpresa, que exigiu da imprensa um grande esforço de cobertura. Ela deixa que se percebam, todavia, dois objetivos, ou melhor, duas tentativas suas – a de cooptar as Forças Armadas para uma crise institucional, que poderia desaguar num golpe de Estado em favor de quem ocupa hoje a Presidência da República; e, também, junto e misturado, a de cooptar o centrão com a nomeação da deputada Flávia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo, obviamente com os mesmos objetivos, imaginados em seus devaneios.

Com isso, estaria definitivamente blindado para buscar “outro mandato”. Ledo engano. As tentativas sugerem dias difíceis em futuro muito próximo. Não é fácil acreditar que as Forças Armadas sejam usadas como meio para uma “perigosa aventura”, nem o centrão permitiria que lhe impusessem goela abaixo qualquer tentativa de desestabilização do Estado democrático de direito. Venha de onde vier.

Não seria nenhum equívoco dizer que uma crise militar, que viria acompanhada de uma crise institucional, que certamente envolveria o Congresso Nacional (Câmara e Senado), além do Supremo Tribunal Federal (STF), traria ainda mais dificuldades para o ocupante da Presidência da República. Pesariam contra ele, leitor, não só a patente na qual se reformou, mas, sobretudo, sua trajetória como cadete e tenente do Exército, já velha conhecida do Alto Comando do Exército.

Nem tudo é desgraça, porém. Ficaria de bom tamanho se Jair Bolsonaro e asseclas aceitassem que é muito melhor passar à história como ex-presidente da República do que como alguém que quis atentar contra as instituições democráticas, mas foi severamente punido.

Os exemplos estão próximos de todos nós.

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