ACÍLIO LARA RESENDE

Neste mundo de Deus, o que menos vale é a vida do ser humano

A tempestade da semana passada quase destruiu a cidade

Por Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2018 | 03:00
 
 
Duke

Pode ser que eu tenha exagerado no título destas maltraçadas linhas, como diria um velho e querido amigo. Peço desculpas. O mar não está para peixe nestes dias de expectativa de novo governo. Os altos e baixos nas nomeações do presidente eleito (e diplomado) tiram-me do prumo e me provocam incômoda ansiedade. Ou será medo?

O desprezo pela vida humana ocorre em qualquer parte do mundo. Basta só um pouco da nossa atenção. Os exemplos estão à nossa frente. A França de Emmanuel Macron passa por crise profunda, que afetará a Europa, mas, com certeza, influenciará os rumos (futuros) do nosso pobre país. Foi boa a lembrança, pela ministra Rosa Weber, dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Foi bom o presidente eleito afirmar que governará para 210 milhões de brasileiros.

Mas vamos ao objetivo destas maltraçadas linhas, que, obviamente, tem a ver com o valor da vida do ser humano. Quero referir-me à tempestade da semana passada, que quase destruiu nossa cidade.

Ouvido pela rádio CBN, um dos motoristas, jovem e bastante articulado, que assistiu ao espetáculo macabro da caída de uma árvore sobre uma van escolar que transportava cinco crianças (por sorte, nenhuma se feriu), na praça da Harmonia (que ironia!), na noite da última quinta-feira, depois de algumas considerações, desabafou assim: “Não tem cabimento uma simples tempestade levar consigo uma só vida humana”. Referia-se ao motorista da van, que não recebeu atendimento a tempo, não resistiu aos ferimentos e faleceu. O jovem expôs sua revolta, que é de todos nós, contra a absurda omissão do poder público.

Há 30 dias, naquela mesma avenida, mas na pista que desce em direção à Savassi, outra árvore também caiu. Não sei se, dessa vez, as consequências chegaram a provocar mortes. Só sei que a prefeitura providenciou uma poda preventiva ao longo daquele trecho. Se voltarmos nossa atenção para outras localidades, veremos que a cidade está cheia de árvores condenadas, que põem em risco muitas vidas.

Os dois episódios (há inúmeros outros, leitor) me levam a registrar o que ocorreu na minha rua, com uma das árvores plantadas defronte à portaria do meu prédio. No início de março de 2017, essa árvore secou de vez. Uma das moradoras, no dia 28 desse mesmo mês e ano, solicitou ao Sistema de Atendimento ao Cidadão (SAC) que ela fosse cortada, tendo em vista os riscos que corriam residentes e transeuntes. Pouco depois, um funcionário da prefeitura compareceu ao local e “constatou que ainda havia seiva no tronco”. Por essa razão, marcou outra avaliação dentro de seis meses a contar dessa visita.

Como essa nova avaliação não foi feita, em meados de março de 2018 (um ano após), e pela mesma moradora, novo pedido de corte foi enviado ao SAC. Ninguém compareceu ao local. Em agosto de 2018, a mesma moradora se dirigiu à Ouvidoria da Prefeitura de Belo Horizonte para dizer o que vinha acontecendo e fazer novo pedido de corte. Como 90 dias depois nada se providenciara e após falar com o funcionário responsável, o corte foi executado no dia 22.11.2018. Primeiro esteve no local uma equipe que não dispunha (incrível!) de motosserra nem de caminhão com capacidade para transportar os restos da árvore. Depois, munidos de máquina e veículo apropriados, levaram o que dela restou, mas deixaram o tronco, dizendo que esse trabalho era de outro departamento.

E o tronco? Quanto tempo durará sua remoção?