Acílio Lara Resende

O país regride a passos largos, e só não vê quem não quer

Desconfiança quanto às eleições

Por Acílio Lara Resende
Publicado em 23 de junho de 2022 | 03:00
 
 
Infografia O Tempo

Só não enxerga quem não quer o que acontece em nosso país. Vivemos sob a ameaça de golpe em nossas instituições. Desde 2018, vale dizer, desde o início do governo Bolsonaro, as ameaçam não param. Por sua vez, a pandemia mostrou, com clareza, a ausência total de respeito pelo povo e a falta cada vez maior (e cruel) de políticas públicas. Mostrou o que alguns enxergavam e muitos fingiam que nada viam – o empobrecimento impressionante do povo brasileiro.

Consertar o que vem sendo destruído pela corrupção e pela incompetência é obra para as grandes lideranças, que respeitam o voto e, acima de tudo, as instituições democráticas. Não é para qualquer um, muito menos para quem somente usa as redes sociais para atingir objetivos exclusivamente pessoais. Por meio delas, se tornam líderes incontestes, ou, quem sabe, um enviado de Deus. Aliás, é isso o que pensa o atual presidente da República. Para ele, foi Deus quem o pôs lá.

O cartunista Chico, que participa ativamente da vida do país por meio das suas charges diárias em “O Globo”, na de anteontem nos revelou o que vem acontecendo ao país: após o título “Entreouvindo o Bolso”, seguem três “retratinhos” do presidente, de forma decrescente, e, a seguir, o texto: “Vamos em frente... diminuindo”!

Vê-se agora, segundo reportagem recente de Cássia Almeida, que infelizmente voltamos “ao passado na economia, no bem-estar da população, na educação e no meio ambiente”. O país está com indicadores de 30 anos atrás. “Recessão, pandemia e desmonte de políticas públicas acentuaram nos últimos dois anos um processo de retrocesso social”. Voltaram à pauta a fome, a pobreza, a evasão escolar, a saúde, o desmatamento, a inflação e o (sub)desenvolvimento.

Ao contrário de nos encher de esperança num país melhor, realmente promissor, as próximas eleições estão difundindo o medo. A preocupação da maior parte da população é visível. Muitos dos candidatos a cargos eletivos não inspiram confiança. E, no caso dos candidatos à Presidência da República, a desconfiança é a de que a polarização entre Lula e Bolsonaro só nos levará a mais retrocesso.

Se reeleito, o atual presidente continuará na sua toada, ou seja, nunca defenderá uma Justiça independente, e, por isso, a liberdade corre risco. É inacreditável, por exemplo, a proposta (de autoria do centrão) que pretende atribuir ao Congresso o poder de rever as decisões do STF. Ela não viola apenas o princípio da separação dos Poderes. É um tiro de morte no regime democrático e na liberdade.

Tomara que o senador mineiro Rodrigo Pacheco esteja realmente imbuído da sua responsabilidade como presidente do Senado. Em artigo recente (22.5), afirmou que a democracia não está em risco em nosso país. E justificou: “Temos instituições sólidas que estão em busca do equilíbrio institucional por intermédio de um pacto republicano. A harmonia entre os Poderes – concluiu – é essencial para que possamos preservar a democracia e o Estado de direito”. Tomara!

Acílio Lara Resende é jornalista