Acilio Lara Resende

Acílio Lara Resende é jornalista e escreve às quintas-feiras

Acílio Lara Resende

Política é legítima negociação

Publicado em: Qui, 05/03/20 - 03h00

Não sei, sinceramente, leitor, se você já se cansou desse clima de polarização irracional, que só prejudica a democracia, adotado pelos que habitam os extremos políticos ou, como costumam dizer, de esquerda e de direita radicais. A convivência, entre amigos e em família, começa a se esgarçar, tornando suas relações penosas. Se você critica o governo Bolsonaro, é Lula – e vice-versa. Para mim, basta!

E, infelizmente, o presidente da República, não só em suas entrevistas (ou bravatas) na porta do palácio, mas em várias outras oportunidades, é o maior responsável por esse clima. Nas entrevistas, quando maltrata e ofende os profissionais de imprensa que lá, única e exclusivamente, cumprem um dever profissional do qual são cobrados, excede todos os limites até mesmo do decoro que deve guardar. E o que é mais triste é estar sempre apoiado por uma claque de bajuladores intolerável, que destila o mais puro ódio pelos seus poros.

É preciso que fique claro de vez: o presidente não faz comunicação – seja por que meio for – de caráter pessoal. Tudo o que diz, em razão do poder de que dispõe, repercute no país e pode determinar os seus rumos. Depois que, pelo Twitter, manifestou apoio a atos contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal – dois dos Poderes que, como o Poder Executivo, respondem pelo regime democrático e pela Constituição Federal –, a situação só se agravou.

Assessores tentaram minimizar a crise institucional que criou. O presidente alegou que o que houve foi um “mal-entendido”. Que não tem “simpatia” por protestos contra os dois Poderes.

Ninguém mais, a não ser ele, acreditou no que disse. Mesmo assim, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, e o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, se fizeram exceção e defenderam o presidente Bolsonaro. O primeiro disse: “Estão fazendo tempestade em copo d’água”. O segundo defendeu o mandatário, depois de provado, dizendo que “não foi ele quem fez os vídeos, não foi ele que os distribuiu. Ele não fez qualquer crítica aos parlamentares”.

A partir desse episódio grotesco e – o que é mais grave – protagonizado pelo presidente da República, ele se recolheu. Negou outra vez, em visita ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ter jogado a população contra o Congresso Nacional e, após, delegou a negociação aos ministros Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e Paulo Guedes, da Economia. Serão os responsáveis pela costura de uma saída para a crise do orçamento que ele mesmo criou.

Bolsonaro se considera o antipolítico. Quer levar o povo brasileiro a parar de pensar. Esquece-se de que política é (legítima) negociação. E que é na democracia, só nela, que viceja a liberdade

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