Indicação de filho é risco desnecessário ao presidente

Reflexão é ótima oportunidade para correção de rumo

Indicação de filho a embaixada é risco desnecessário ao presidente

Por Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2019 | 03:00
 
 

Amigo de longa data, também leitor destas linhas, me disse outro dia que às vezes discorda de mim quando trato tanto das falas quanto das atitudes e vontades do presidente Jair Bolsonaro. Afinal, estamos livres do PT, comemorou. Ouvi-o calado. Entreguei-me à arte da reflexão. Que sempre foi ótima oportunidade para correção de rumos. Recebo com tranquilidade qualquer crítica, mas acho, sinceramente (não há dúvida sobre a legitimidade da sua eleição), que Jair Bolsonaro não foi, a meu ver, o melhor entre os candidatos que se apresentaram nas eleições do ano passado (à exceção de Fernando Haddad, que não soube reconhecer os erros do seu chefe maior, hoje condenado e preso). Eleito vereador, foi excluído do Exército. Na ativa, foi tenente. Na reserva, valendo-se de favor legal, reformou-se capitão. Pesquisei relatos, mas não os encontrei, sobre se Jair Bolsonaro, muito jovem e já na reserva do Exército, buscou aperfeiçoar, em alguma universidade, os seus conhecimentos. Ao contrário, elegeu-se logo vereador. Depois, alçou-se à Câmara Federal e, por méritos seus, por lá permaneceu e atuou durante 28 anos como representante dos seus companheiros de farda. Não há, porém, durante todo esse tempo, nada que o recomende como bom parlamentar. Integrava, na realidade, o “baixo clero”, denominação que se dava aos que só se ocupavam consigo próprios ou com os interesses dos “companheiros”. Ele soube – é bom que se reconheça isso – atrair o apoio dos milhões de descontentes com os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), que de fato traiu o povo e quase o amaldiçoou. A estúpida facada que o atingiu tornou-o um “mito”. Com certeza, o grupo de eleitores que hoje o apoia é bem menor do que aquele que o elegeu. Não consigo entender a maioria das falas, atitudes e vontades do presidente. Esta última – a de indicar à embaixada nos EUA seu filho mais novo, Eduardo, deputado federal eleito por São Paulo com a maior votação da história do Estado –, é, com todo respeito, de um cabo de esquadras. Por mais críticas que se tenha ao Ministério das Relações Exteriores, ou por mais pragmático que se queira ser (o filho de Donald Trump viria para o Brasil como embaixador etc.), a intenção, que se espera que não se transforme em indicação, é simplesmente patética. Hoje se sabe por que razão Sérgio Amaral, que tem boa história no Itamaraty, não continuou na embaixada nem se cogitou do seu substituto. Com a representação diplomática sem comando por três meses, o presidente esperou que o seu rebento completasse 35 anos, o que se deu há três meses. A espera permitiu que o deputado afinal cumprisse a única exigência constitucional capaz de cumprir – a da idade mínima. Deixo de lado a falta dos demais atributos do possível indicado. Já foi bastante falada e não há, leitor, como complementá-la. A decisão final poderá ser do Senado. Ou do Supremo Tribunal Federal. E o presidente corre risco desnecessário.