ACÍLIO LARA RESENDE

Só a intolerância política impedirá que o Brasil opte pelo bom

Busquemos alguém que una o país, como já feito noutros tempos

Por Da Redação
Publicado em 15 de março de 2018 | 03:00
 
 
DUKE

“Se pudesse reviver a história, me aproximaria do Lula”. Esta frase é do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Tem sido repetida com frequência por ele. FHC está sendo criticado por dizê-la pelos que não param um só minuto para refletir sobre coisa alguma, muito menos sobre política. Em rápida entrevista concedida ao colunista de “O Globo” Ascânio Seleme, no último domingo, questionado sobre Lula, respondeu: “Eu gosto do Lula. Acho que fez coisas positivas, mas vai ter que responder pelos chamados ‘malfeitos’”. Sua fala tem sentido.

Lula fez muitas coisas positivas, sobretudo em seu primeiro mandato, e a segunda parte da resposta nada tem a ver com a primeira. Insisto, portanto, leitor: Lula terá que pagar pelos malfeitos dos quais participou direta ou indiretamente. Já foi condenado numa e será condenado noutras ações. Não há mais dúvidas sobre isso. Há provas em grande quantidade. Entendo perfeitamente o que disse FHC. E concordo com o que escreveu no último dia 4 de março, em artigo em “O Globo”: “A democracia supõe uma cultura de convivência; na luta política há adversários, não gladiadores prontos a matar o inimigo”.

Somos neófitos na democracia. Talvez esteja aí a razão pela qual PSDB e PT nem sequer tentaram caminhar juntos. Refiro-me às boas propostas de ambos sobre a construção de um país socialmente justo. A história tratará disso. Essa gente que considera FHC totalmente fora da realidade, um completo esclerosado, está equivocada. Se, na opinião desses críticos, o sociólogo de ontem deixa algo a desejar, o atual ex-presidente, com certeza, deve ter sido acometido pelo “mal de Alzheimer”. Só que, aos 86 anos, FHC enxerga bem as coisas. Está mais do que lúcido. Poderá ter peso nas eleições de outubro próximo. Não como candidato, mas como conselheiro dos que ainda têm esperança.

Tenho ouvido constantemente de amigos a amarga afirmação de que não há mais saída para o país. Dizem que escolhemos mal nossos governantes e deixamos o crime tomar conta da sociedade. A educação, a saúde, a segurança, a infraestrutura e tudo que serve de alicerce à retomada do desenvolvimento, enfatizam eles, são tarefas hercúleas, bem próprias de um gigante, não de um simples ser humano.

Na realidade, leitor, administrar um país quebrado material e moralmente, e com suas instituições democráticas submetidas a testes a toda hora, é um senhor desafio. Parece mesmo tarefa para gigante. Estamos a alguns meses das eleições deste ano. São muitos os candidatos que se apresentam por si ou por terceiros. Distribuem-se entre partidos despossuídos de propostas. Dentre eles, há mais aventureiros do que candidatos. O momento, portanto, é de união, não de cada um para si e que o outro se dane. Busquemos, então, alguém que una o país, como já foi feito noutros tempos, e defenda, como primeira tarefa, os velhos e bons princípios do regime democrático.

Precisamos ter em mente que só a intolerância política poderá impedir que o Brasil, a partir das eleições de outubro próximo, se decida, de uma vez por todas, pelo bom caminho. Não temos tempo a perder. O povo, que sofre na carne os malefícios dos maus políticos, está cansado de aguardar um futuro melhor que, infelizmente, nunca chega.

Lula, leitor, não será candidato. Essa disputa pela equivocada herança que alguns pensam que ele deixará não vai ajudar o Brasil. Muitos menos aos que se animam a buscá-la a qualquer preço.