Acílio Lara Resende

Um registro que não pode passar em branco

O cuidado com os pobres e a disputa eleitoral

Por Acílio Lara Resende
Publicado em 07 de julho de 2022 | 03:00
 
 

Antes de entrar em um assunto nada agradável, que é a política, que já foi tema bem mais ameno, sobretudo quando tínhamos homens públicos valentes, sustentáculos obstinados das instituições democráticas, um registro que não pode passar em branco é o da morte do arcebispo emérito de São Paulo d. Cláudio Hummes. Morreu aos 88 anos, mas aos 78, já conhecido dentro e fora do Brasil, na eleição do papa Francisco (Mário Jorge Bergoglio), de quem foi amigo e a quem sugeriu o nome de Francisco, sentado ao seu lado na Capela Sistina, fez questão de lhe deixar este recado: “Não se esqueça dos pobres”.

D. Cláudio Hummes ficou conhecido por suas posições corajosas durante o regime militar. Foi uma pessoa que viveu “um testemunho de amor à Igreja e ao povo”. Jamais perdeu a esperança no ser humano. “Ele achava” – disse d. Angélico Sândalo, companheiro de geração –, “que, mesmo imerso em grandes crises, como vivemos agora, temos de ter esperança. Foi um discípulo missionário de Jesus”.

Agora, a política. As denúncias contra o Ministério da Educação envolvendo o ex-ministro Milton Ribeiro e, obviamente, os conselheiros de Jair Bolsonaro na área de marketing político levaram o presidente a mudar de tom em seus “discursos” diários. Depois de afirmar, por várias vezes, que não há corrupção em seu governo, passou a admitir que “há casos isolados de irregularidades”. Fez questão de dizer, porém, que não há corrupção endêmica: “Estamos muito bem no governo no combate à corrupção. Não temos nenhuma corrupção endêmica no governo. Tem casos isolados que pipocam, e a gente busca solução para isso”, disse Bolsonaro em evento promovido pela CNI.

O tempo passa, as eleições se aproximam, e as denúncias de corrupção contra o atual governo vão sendo divulgadas aos poucos. A luta pela reeleição se torna assim cada vez mais intensa e cada vez mais polarizada (e bruta), permitindo que o ex-presidente Lula volte a assuntos que já deveriam ter sido enterrados, como o da regulamentação dos meios de comunicação. Dias piores virão, sobretudo durante e depois das eleições que estão batendo à nossa porta.

Mas, seguindo a linha de d. Cláudio, confiemos na esperança. Ela nos dá força para enfrentar o futuro. O empresário Pedro Passos, um dos fundadores da Natura, formado em administração pela FGV e engenharia de produção pela USP, em entrevista a “O Estado de S. Paulo” (4.7), preocupado com as eleições e com a polarização odienta entre dois candidatos, afirmou que “Bolsonaro é um show de horror e Lula propõe soluções antigas”. De acordo com Passos, que colabora, com outros empresários, na elaboração do plano de governo de Simone Tebet, a senadora “pode enriquecer o debate eleitoral, que está ralo com soluções antiquadas de um lado e trágicas de outro lado”.

A aprovação no Senado da PEC que libera gastos bilionários antes das eleições e a criação de “estado de emergência” nada têm a ver, leitor, com o recado que d. Cláudio Hummes deu ao papa...

Acílio Lara Resende é jornalista