Ana Paula Moreira

Jornalista esportiva. Editora adjunta do caderno Super FC dos jornais O Tempo e Super Notícia, escreve quinzenalmente às quintas-feiras

A diferença nos casos Muralha e Robinho

Publicado em: Qui, 30/11/17 - 02h00

Quem é apaixonado por um time de futebol sabe como o esporte é importante. Não pela modalidade em si, mas porque tudo o que cerca essa equipe é significativo para a vida do torcedor. Aqui, estou falando de quem acompanha mesmo o time, e não daqueles que têm apenas uma simpatia por determinado clube.

O torcedor, aficionado, sabe que o desempenho de sua equipe mexe com seu dia a dia, com seu humor. Quando o time ganha, ele fica mais feliz. Quando perde, fica bravo e aborrecido. A maioria das pessoas apaixonadas por um time de futebol se preocupa mais com essa agremiação do que com várias outras questões do cotidiano, como os rumos da política e da economia do país, por exemplo.

O torcedor passional vê seu ídolo como herói, santo, mito – quando ele marca gols, é decisivo, faz defesas improváveis. Mas ele também ataca, ofende e agride o jogador que erra um gol na decisão ou que falha e leva um frango. Foi o que fez grande parte da torcida do Flamengo com o goleiro Muralha, que cometeu alguns deslizes consideráveis nos últimos jogos.

Eu entendo os fanáticos por futebol, especialmente por um time em si. Eu sei bem como nosso humor se transforma em dia de jogo e conforme o resultado das partidas. Eu entendo o torcedor xingar o jogador quando ele erra algum lance – pela televisão ou da arquibancada.

O que eu não entendo é o cara que sai de casa para ir ao aeroporto, no embarque do time para uma decisão, para insultar e destratar um jogador da própria equipe, como aconteceu com Muralha. O goleiro está sendo massacrado por parte da torcida e também da imprensa, o que só prejudica o atleta em campo.

Uma falha grotesca dentro da partida serve de motivo para atacar o atleta que a cometeu. No entanto, se o jogador é fundamental para a equipe, marca gols ou faz defesas milagrosas, o comportamento dele fora das quatro linhas pode ser relevado, como se o futebol fosse um mundo à parte. Não é!

Foi o que aconteceu com uma parcela da torcida do Atlético, que defendeu o atacante Robinho nas redes sociais quando ele foi condenado na Itália por agressão sexual. Como se as atitudes dele extracampo não fossem importantes, como se os gols que ele marca com a camisa alvinegra apagassem os erros do passado.

A condenação foi em primeira instância, e Robinho pode recorrer, mas isso não anula o fato de que ele tem que responder judicialmente por seus atos. Não devemos penalizar o jogador antes da decisão final, mas acredito que ele deveria ser afastado de suas atividades, até para poder focar em provar sua inocência. Isso seria o mínimo.

Foi assustador o que aconteceu quando uma torcida feminina do Atlético divulgou que é contra todo tipo de agressão contra a mulher, pedindo que o jogador responda por seus atos e que o clube tome uma atitude. As respostas para essa publicação no perfil da Grupa são lamentáveis. Vários torcedores se mostraram muito mais preocupados em defender Robinho do que em se indignar com o que ele pode ter feito a uma mulher. Falta empatia com o próximo no futebol, ainda mais quando o próximo é uma mulher. 

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