ANA PAULA MOREIRA

Organizadas por mais respeito e sororidade

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 07 de setembro de 2017 | 03:00
 
 

“Sempre duvidam que eu realmente gosto e entendo de futebol”. “Preciso calcular cuidadosamente a logística do deslocamento para ir e voltar do estádio com um mínimo de segurança”. “Não posso dar um passo com a blusa do meu time sem ser assediada com ‘gracinhas’”. “Preciso pensar cinco vezes antes de ir ao campo de short”. “É difícil ouvir gritos machistas e homofóbicos da torcida e não poder demonstrar que me sinto ofendida sem sofrer retaliação”. “É difícil ir ao estádio sem ter uma companhia masculina e ser respeitada”.

Essas frases foram ditas por torcedoras que frequentam ou gostariam de ir aos jogos de seus times, mas, por razões como as listadas acima, não vão. Outras, apesar de todas as dificuldades, insistem, persistem e resistem em estar num ambiente predominantemente e culturalmente masculino e inóspito para elas.

Para começar a mudar essa realidade, torcedoras de vários times de todo o Brasil estão se unindo. Em junho deste ano, aconteceu o I Encontro Nacional de Mulheres de Arquibancada, no Museu do Futebol, no Pacaembu, em São Paulo. De lá, surgiu a demanda de reuniões regionais, e Minas Gerais saiu na frente. Representantes de torcidas de Cruzeiro, Atlético e América organizaram o I Encontro de Mulheres de Arquibancada do Estado, que aconteceu no último sábado.

Mais de cem mulheres se inscreveram no evento, entre torcedoras comuns e integrantes de organizadas. Estiveram presentes representantes das principais torcidas organizadas de Minas e torcedoras de América, Atlético, Cruzeiro, Corinthians e Internacional. De acordo com uma das organizadoras, o encontro foi planejado por mulheres de arquibancada que estão há anos buscando respeito e espaço no esporte.

“O movimento surgiu quando percebemos que os desafios e as dificuldades de todas as amantes de futebol são os mesmos, independentemente do clube ou do Estado em que elas vivam. A partir disso, surgiu a aliança entre torcedoras de todo o Brasil, inicialmente, via internet, para compartilharmos experiências e encontrarmos soluções juntas”, explicou Ana Miranda, uma das organizadoras e torcedora do Atlético.

Como mulher que gosta de futebol, fico muito feliz com um evento como o do último sábado. Antes de ser frequentadora de estádio, sou mulher. E é assim com qualquer torcedora, sendo ela atleticana ou cruzeirense, colorada ou gremista, palmeirense ou corintiana. Casos de desrespeito, machismo, assédio e violência acontecem em qualquer estádio de futebol. Fazer parte de uma torcida organizada não isenta a mulher torcedora de sofrer situações desse tipo.

No encontro, as participantes falaram sobre situações que vivenciam no estádio pelo simples fato de serem mulheres. Ali, independentemente do time para o qual torciam, elas se identificaram nas histórias umas das outras.

“O resultado final foi melhor do que esperávamos. Conseguimos debater e nos reconhecer umas nas outras, apesar da cor de camisa que usamos. Conseguimos cumprir com o objetivo de união entre as torcidas e com muita sororidade”, destacou Ana Miranda. Que seja só o começo da mudança para elas!