Andrea Andrade

Editora do jornal O Tempo Contagem e das redes sociais @otempocontagem no Facebook e Instagram

O não ao voto é um não à cidadania?

Publicado em: Sex, 20/07/18 - 03h00

A três meses das eleições, o maior percentual apurado nas pesquisas é o de “não voto”, ou nulos e brancos, que chegam a 40%, segundo pesquisa publicada na terça-feira (17) no jornal O Tempo. A prática de anular o voto, que já é uma campanha nas redes sociais, expõe um descontentamento com todo o sistema da democracia representativa ou, em alguns casos, a insatisfação com os candidatos que são apresentados. O povo brasileiro está saturado e descrente da classe política. Os candidatos que se apresentam não conseguem agradar. O voto nulo é um perigo, a pessoa deixa de utilizar seu papel como cidadão e optar, ainda que seja o menos pior. Difícil momento que vivemos. Quem são os candidatos de Contagem e o que fizeram pela cidade, este é um bom começo para você escolher.

Por outro lado, a classe política, se pretende sobreviver, precisa buscar alguma forma de motivar o eleitorado que, diante da crise e das revelações das falcatruas cometidas nos escaninhos do poder, caiu no desencanto e, erroneamente, opta por não participar. Ao se retirar do processo decisório se tornam marginalizados políticos, muitos chegam a abdicar do direito de falar sobre eleições, criando a instituição do silêncio político. Quem já não ouviu alguém dizer: "não gosto de política, não quero falar sobre isso". Este ano, o horário eleitoral gratuito deverá ter poucos ouvintes, a maioria vai preferir a Netflix. Depois no dia de votar apenas cumprem com seu dever votando em qualquer um . Pior, a legislação eleitoral, habilmente elaborada pelos políticos, diretos interessados nos resultados, ignora completamente o protesto dos que decidem não votar, anular ou votar em branco. Essa manifestação de repúdio em nada interfere no resultado final porque o legislador brasileiro escolheu validar as eleições apenas com a soma e os quocientes daqueles que comparecem e às urnas e votam, mesmo que isso leve a governos fracos e não representativos.

Concordo com Berthold Brecht: " O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais." 

Se o voto é obrigatório, o ideal seria que os quocientes levassem em conta também as abstenções, os nulos e os brancos, mas isso não interessa aos que têm o privilégio de fazer ou votar as leis e, evidentemente, sempre buscam a reeleição. O quadro atual aponta para um desastre eleitoral com o risco do eleito, qualquer que seja, não representar e nem merecer o respeito de parcela majoritária do eleitorado, que representa a população. Tristes tempos. O Brasil está saindo de uma grave crise que se abateu nos últimos anos, que causaram os piores danos. O momento obriga a uma responsabilidade política severa. É necessário votar em alguém que possa representar o interesse coletivo. Cada pessoa deveria lembrar que vive em meio a outros indivíduos, ou seja, sua vida depende dos outros e o que ele fizer vai influenciar nas vidas alheiras. Viver é acima de tudo, conviver e a esfera pública é política sim. Quanto menos pessoas participarem, pior fica. Tiririca não tinha razão, pior que está, pode ficar. 

É imperativo convencer o eleitor de que a ausência e os votos nulos ou brancos servirão apenas para potencializar a crise e o sofrimento do povo. Creio ser essa a tarefa que a classe política e especialmente os pré-candidatos têm para o momento. 

O tempo dirá se a escolha foi melhor, mas o importante é escolher. 

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