Opiniões e artigos eventuais de representantes dos diversos campos da política, economia, academia e sociedade

Opinião

Desacato a guardas municipais por falta de uso da máscara

Publicado em: Qui, 23/07/20 - 03h00

A expressão intimidatória “sabe com que você está falando?” quase sempre está associada a tentativa de alguém – que, em ocasião ocupa uma posição de destaque na sociedade – de usar do argumento como forma de escusar o cumprimento a Lei ou levar algum tipo de vantagem mediante o constrangimento de outrem.

O episódio ocorrido no último fim de semana, na cidade de Santos, quando abordado por um guarda civil municipal (GCM) enquanto caminhava na praia sem usar máscara, obrigatório por decreto municipal – o desembargador Eduardo Siqueira – que também é ex-coordenador da Secretaria da Área de Saúde (SAS) - do Tribunal de Justiça de São Paulo, alegando que “decreto não é lei”, não apenas se negou a fazer o uso do acessório, como rasgou a notificação e desacatou o GCM, que o abordou.

No Rio de Janeiro, há poucas semanas, fato semelhante. Foi durante uma abordagem feita por fiscais – também acompanhados de guardas civis municipais – que cobravam de donos e frequentadores de bares o cumprimento da regra municipal que previa a manutenção do distanciamento social, a higiene e a não aglomeração de pessoas, ouviram em uma abordagem "cidadão não, engenheiro civil, formado, melhor do que você". O ocorrido, gravado e exibido em rede nacional, provocou a demissão dos abordados.

Mas o que está em baila nos episódios acima não é apenas explicitar arrogância e vaidades a partir dos títulos conquistados, mas o quando este atraso civilizatório é nocivo a saúde de um povo e soberania de uma nação.

Nesta fogueira de vaidades, está a falta de alinhamento das autoridades. Iniciativa que pode ser decisiva na preservação de vidas. Era o que tentavam o fiscal e o guarda civil, imbuídos de autoridade constituída. Legítimos representantes do poder público.

Mas “quem deveria juntar, espalha” é o que tenho visto na gestão do Estado de Minas e da capital, Belo Horizonte, onde os números da Covid-19 apontam franco crescimento e colocam em xeque seus gestores. Por aqui, é clara a falta de sintonia e vaidade. Kalil e Zema têm, definitivamente, travado uma guerra, não exatamente contra o inimigo comum (a pandemia), e o resultado disso é desastroso para a população, que sofre as consequências de desarranjos e promessas não cumpridas.

Um hospital de campanha que não encontrou no entendimento entre prefeito e governador a possibilidade de hoje estar em pleno funcionamento. Numa dialética envaidecida de quem pode e deve fazer mais, ficaram no discurso. Onde estão os 7.000 respiradores prometidos por Kalil? E a testagem em massa? Quem está falando, nunca importou! E quanto mais demorada for a troca do “competir pelo cooperar”, distante de vaidades pessoais e políticas, mais longe estaremos na superação desse momento. E disso dependem o nosso futuro.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.