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Opinião

Minas Gerais, 300 anos

Publicado em: Qui, 23/04/20 - 11h19

Primeiramente, é de grande valia a inciativa de se celebrar os 300 anos de Minas Gerais com diferentes atividades especiais ao longo do ano de 2020 – dada a pandemia do novo coronavírus, que essas atividades sejam virtuais e que circulem nos diferentes meios de comunicação.

Todas as comemorações deste ano têm por objetivo recrudescer e expandir o sentimento de mineiridade e despertar a ação efetiva das autoridades constituídas do Estado e até do país em favor das diversas regiões mineiras – algumas ainda muito carentes – que inclusive começaram este ano com certas dificuldades em consequência das fortes chuvas que caíram sobre o Estado.

Contudo, neste tricentenário, não se pode deixar de lado, como se tem visto em algumas matérias, em algumas propagandas e em alguns textos, o papel que a cidade de Mariana ocupa na história de Minas Gerais – a primeira vila, a primeira cidade (inclusive a primeira planejada do Estado), a primeira capital e a primeira sede de bispado.

Desde a decisão régia de dom João V – que em 23 de abril deste ano completou 275 anos –, a única cidade de todo o Período Colonial Mineiro foi Mariana. Nessa primaz se assentou com Antônio de Albuquerque e, posteriormente, com o conde de Assumar, o primeiro governo oficial que abrangeu durante um certo período o próprio Estado, hoje, de São Paulo.

A autonomia política do Estado, por exemplo, materializa-se com a primeira eleição que aconteceu para compor a Câmara de Mariana em 1711. Há, inclusive, no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana, a urna utilizada nesse processo.

Sobre a constituição do Estado, nas palavras do saudoso professor Roque Camêllo, Minas Gerais “não teve infância, pois, instituído quase dois séculos após o ‘Descobrimento do Brasil’, foi o pedestal sobre que se erigiu o maior de todos os monumentos, a Nacionalidade, elo de integração miraculosa de um país continente não só por sua extensão territorial, mas por sua grandiosa e rica diversificação cultural”.

São exemplos dessa riqueza cultural os diversos bens documentais depositados em diversos arquivos históricos do Estado. Destacamos o “Livro de Inventários da Catedral de Mariana”, custodiado pelo Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, que, por um projeto de nossa autoria, em virtude da nossa pesquisa de mestrado – realizada no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da UFMG, sob orientação da professora doutora Aléxia Teles Duchowny –, foi inscrito no Registro Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da Unesco.

Ao lado dessa documentação, outros documentos mineiros, inclusive outros de Mariana, fazem parte desse registro da Unesco o que apenas ratifica as palavras do professor Roque Camêllo que ora citamos.

Comemoremos, portanto, o tricentenário do nosso Estado com um forte espírito de valorização e de divulgação das nossas riquezas materiais e imateriais. Que não nos esqueçamos, nas diversas celebrações, da cidade de Mariana – antigo arraial do Ribeirão do Carmo, posteriormente, vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo e, por fim, cidade de Mariana.

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