Artigo

Para não errar de novo nas chuvas em BH

Inundações e alagamentos na capital mineira

Por Osvaldo Ferreira Valente
Publicado em 07 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 

Em fevereiro de 2009, escrevi um artigo em O TEMPO inspirado em inundação do ribeirão Arrudas. De lá para cá, nada mudou. Está na hora de começar a pensar a cidade com visão de hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas, como a do córrego Leão. Vou usar como exemplo a bacia formada pelo bairro Gutierrez, junto com partes do Barroca, do Grajaú e do Prado, com área aproximada de 1 km². O córrego que drenava a bacia está canalizado e termina por baixo da avenida Francisco Sá, antes de chegar ao Arrudas. 

A avenida tem funcionado como leito de drenagem da bacia nas chuvas fortes. Uma precipitação de 60 mm/h, que foi comum nos últimos dias, se durar mais do que 15 a 20 minutos, gerará vazões aproximadas de 10 m³/s no fim da avenida. A partir desse tempo, estará recebendo enxurrada proveniente de toda a área mencionada, inclusive dos pontos mais distantes.

Não há galeria capaz de dar conta de tanta água, e as enxurradas alagarão tudo, invadindo imóveis, arrastando carros etc. A tecnologia de construção de galerias, quer para o curso d’água em si, quer para enxurradas, já se mostra ultrapassada. Foi um erro antigo da engenharia.

Mas como lidar com tais efeitos se a bacia já está praticamente toda ocupada por casas e prédios e a infiltração natural de água já está prejudicada? Criando pequenos reservatórios nos imóveis, quer armazenando água para atividades de limpeza, quer lançando volumes de telhados, lajes e áreas impermeabilizadas em valas ou cisternas de infiltração. Também a instalação de caixas de infiltração ao longo das redes de drenagem.

Tais retenções serão suficientes para diminuir as enxurradas, e as tubulações poderão dar conta do recado. Custos baixíssimos e distribuídos e que poderão ser compensados nos IPTUs. Tudo embasado em cartas geotécnicas previamente elaboradas. Construir grandes reservatórios, tipo piscinões, também não é medida inteligente.

A retenção em casas e prédios vai distribuir a ação pela área da bacia, simulando melhor o comportamento hidrológico natural da região. Além disso, incluirá os moradores na solução, evitando que eles continuem lançando, para responsabilidade do poder público, nas ruas, todo o volume de água de chuva gerado em seus domínios, por suas atividades construtivas.

Uma chuva com intensidade de 60 mm/h, com duração de 20 minutos e caindo sobre um lote de 300 m², poderá ter todo o volume de água retido em cisternas ou valas de infiltração com capacidade de 6 m³. Arranjo totalmente viável. É claro que alguns transtornos poderão ocorrer, mas em eventos extremos, bem mais raros e com danos sensivelmente menores.