Opinião

Sem saída

A reeleição de Zema está nas mãos de poucos municípios

Por Will Bueno
Publicado em 16 de dezembro de 2020 | 03:00
 
 

Sidneia e Vladmir têm opiniões bem distintas sobre o governo Zema. Vladmir é empresário. Ele entende a importância da austeridade fiscal para a saúde financeira do Estado e, por isso, apoia a agenda do atual governo. Sidneia, por sua vez, é moradora da periferia. No bairro dela falta água, o esgoto fica a céu aberto, a iluminação e os calçamentos são precários. Sidneia ainda não viu nada no governo Zema que tenha ajudado a melhorar sua vida.

Se o atual governo tem feito pouca diferença na vida de Sidneia – que representa a maioria da população –, Zema não tem outra saída. Ou traz benefícios concretos na vida de Sidneia agora, ou será descartado nas próximas eleições.

Daí vem a seguinte pergunta: é possível manter as medidas de austeridade e ao mesmo tempo entregar benefícios reais para a população antes das eleições? A resposta é “sim”! E a solução tem tudo a ver com uma das principais bandeiras de Zema: as privatizações.

Para exemplificar, veja o que aconteceu recentemente em Maceió, a capital do Estado de Alagoas. Parte dos serviços de saneamento da cidade – e de outros municípios vizinhos – foram colocados a leilão para a iniciativa privada. O lance mínimo exigido foi de R$ 15 milhões. Resultado? A empresa vencedora ofereceu, nada mais e nada menos, que R$ 2 bilhões. Isso mesmo! Um valor 130 vezes superior ao mínimo exigido. Ou seja, além de garantir a realização das obras necessárias à universalização do saneamento, a privatização trouxe também R$ 2 bilhões em dinheiro para os cofres públicos. Se esse recurso for aplicado devidamente, a privatização do saneamento poderá trazer benefícios imediatos para a população!

Para entender as consequências disso, vamos projetar o caso de Maceió para os municípios mineiros, começando, por exemplo, por Divinópolis, cidade onde mora Sidneia.

Não cabe aqui detalhar, mas as condições da concessão em Divinópolis podem ser ainda mais atraentes que aquelas em Maceió. Assim, a nova empresa de saneamento seria capaz de trazer recursos suficientes para: ressarcir a Copasa pelo o que ela já fez; realizar as obras necessárias à universalização do serviço; e também pagar, à vista, a prefeitura de Divinópolis pelo direito de prestar o serviço. 

Não se pode prever o valor a ser arrecadado em um leilão, mas, comparando com o caso de Maceió, as estimativas pessimistas apontam valores suficientes para, por exemplo, deixar todas as ruas da cidade de Divinópolis devidamente pavimentadas!

Imaginar a concessão do saneamento básico em Divinópolis é prever investimentos jamais vistos na história da cidade, com consequências que vão além das fronteiras municipais. Basta que alguns poucos municípios mineiros levem adiante esta tendência para convencer toda a população sobre os benefícios das privatizações, principalmente no caso do saneamento. Aproveitar esta oportunidade é uma das poucas saídas – se não for a única – que Zema tem para garantir não só popularidade, mas também a sua reeleição.