Cadu Done

Fred Melo Paiva e o título do Galo

Publicado em: Sex, 05/11/21 - 03h00

No mundo anti-intelectual em que vivemos, na era das redes sociais em que todos gritam, e só quem vocifera mais alto fica amigo dos algoritmos das empresas que tudo controlam com o aval dos incautos que acreditam que ali está existindo menos monopólio do que quando a imprensa era mais forte, a profundidade, o nuançado, o que escapa das dicotomias reducionistas não costuma receber atenção.

Fred Melo Paiva, à parte opiniões “clubísticas” dos leitores que o tornam amado e odiado, há de ser louvado por razões que se encontram longe das argumentações usuais acerca do seu nome. Amo Fred Melo Paiva, acima de tudo, por três motivos. Um deles, com o editor fungando no meu cangote para entregar o texto a tempo, confesso, na minha mente confusa depois da noite de ontem, me fugiu. E a obsessão pelas ideias...

A genialidade negligenciada

A mídia escrita respira por aparelhos. Jornais tentam migrar para a internet com sucessos distintos. O ofício da palavra, do texto, do jornalismo qualificado, não é lembrado por ninguém. Primeira razão do amor: enquanto escritor, escravo da literatura, encontro em Fred Melo Paiva a resistência. Não apenas por sua louvável coragem e inteligência para misturar política com esporte, como qualquer jornalista com “J” maiúsculo haveria de fazer. Fred eleva os modorrentos cadernos de esporte à beleza de uma poesia e uma prosa impecáveis.

O inefável do futebol

A maior parte das colunas de Fred me leva a flertar com o ânimo pela minha profissão. Meus raros leitores e minha raras leitoras sabem do meu humor autodepreciativo com relação ao meu ofício. Um ceticismo contribui para esta cópia barata do Monty Python que ouso tracejar. Não é tipo. Fred me faz sorrir, me iludir que seu texto não é uma espécie em extinção. Que existe jornalismo bem escrito; que o futebol consegue tocar a literatura. Na técnica, na correção, na beleza, estamos falando de um dos melhores colunistas do Brasil.

Acelerando

Nietzsche escancara a insipidez do meio-termo. Hoje, muitas vezes visto como suposta ponderação. Nossos defeitos e virtudes se confundem. Às vezes são a mesma coisa. A hipocrisia, o populismo, as platitudes, o inodoro que agrega muito capital político, mais do que um “soft power”, entedia quem tem mais de dois neurônios. Mas quase ninguém tem. Fred é nietzschiano. Se a zona de conforto e os limites do “bom senso” se projetam, Fred acelera e ultrapassa ambos de modo a invejar Hamilton. Entre a insipidez, o inodoro do jogo seguro, e o que peca por um exagero banhado com genialidade, fico com a segunda opção.

Próximo dia 11: Fred e o inefável

 Belas Artes é um dos melhores lugares de BH. Escrevendo estas linhas, sentindo a saudade, a nostalgia com que a pandemia nos espezinhou, me emociono. No dia 11 de novembro, uma combinação que não poderia ser melhor: Fred Melo Paiva lança filme que abarca toda a história do Galo com o lirismo que uma trajetória tão rica, dramática e gloriosa, agridoce, merece. No Belas Artes, o cinema literário.

Beleza da hipérbole

Nietzsche: censurado pela incapacidade de ler a figura de linguagem. Fred também.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.