Coluna Cadu Doné

O buraco do Cruzeiro não tem fundo

Em boa parte da torcida do Cruzeiro, o sentimento predominante é o de resignação, impotência, esgotamento

Por Cadu Doné
Publicado em 11 de junho de 2021 | 03:00
 
 

O buraco do Cruzeiro não tem fundo

Em boa parte da torcida do Cruzeiro, o sentimento predominante é o de resignação, impotência, esgotamento. A filosofia daqui a pouco vai inaugurar um tipo de niilismo inspirado na desesperança celeste. Talvez até Nietzsche, pelo seu amor fati, se assustaria com as tintas fúnebres desta doutrina edificada no crepúsculo de uma série de ídolos – a própria agremiação, alvo supremo da divinização de seus súditos, definha num ocaso tão repentino quanto avassalador e inesperado. A Raposa demitiu Felipe Conceição. Compreensível. Não conheço o trabalho de Mozart com nível mínimo de expertise. Detesto opinar em circunstâncias desta natureza, desamparado por um arcabouço teórico digno. Prevalece a sensação, porém, de que em função da crise endêmica, para lá de complexa, que tomou a Toca de assalto, seria o caso de apostar em alguém com mais cancha.

 

Beco sem saída

O paupérrimo mercado brasileiro de treinadores costuma deixar em maus lençóis gigantes da Série A, que estão disputando Libertadores, e gozam de relativa saúde financeira – aqui entraria muito mais o aspecto comparativo; em termos absolutos, nenhum de nossos clubes flutua impunemente, sem turbulências, em um céu de brigadeiro. Imagina a situação, portanto, de uma instituição em frangalhos, esfacelada política e economicamente, absorta num insucesso esportivo que parece não ter fim? Não adianta a imprensa iludir a “China Azul”. Difícil demais pinçar um nome ideal para comandar o elenco. E lembremos: o problema não se limita ao vestiário...

 

Para piorar

O plantel cinco estrelas não transmite confiança. Escancara-se evidente carência de talento. Sobretudo no que se refere aos setores de criação e conclusão, o Cruzeiro pena entre a mediocridade e o alto grau de inconstância exalado pelos poucos que carregam ao menos uma centelha de capacidade para decidir. Um diagnóstico perene nas exibições da Raposa nesta temporada: conjunto burocrático, repleto de atletas comuns – “corretos”, mas fadados à sina de tocar de lado e transferir responsabilidades.

 

E a solução?

Detectar as doenças do paciente não se revela abstruso. E se ele está em estado terminal, sem plano de saúde, e não há soluções farmacológicas? Neste cenário – ao contrário de outros por aí... – até existia tratamento precoce: a mais ínfima subdose de Itair Machado, Wagner Pires, e seus Blue Caps fora contraindicada pelos profissionais dignos do diploma como fatal para a harmonia do corpo e da alma. O Cruzeiro não ouviu a ciência. Mergulhou na pandêmica obscuridade que se alastra por aí.

 

Dinheiro

Sem grana para seduzir técnicos interessantes, e para temperar o insosso grupo de jogadores, a Raposa busca uma luz para amainar um dilema que se consolida insolúvel. De um lado, a clarividente necessidade de melhorar a mão de obra; do outro, a percepção de que sem uma austeridade inegociável a casa nunca será arrumada, e os impasses crescerão num looping eterno. Bradar para esbanjar criatividade nas contratações é fácil e óbvio; já agir com o bolso furado...

 

Vexame

Manter no poder certa corja que dilapidou a instituição: este sim é um despudor indubitável; um soco no estômago do torcedor.

 

Luxemburgo

Em meio a todo o enredo nonsense, novas pitadas de surrealismo: campanha forte para Luxemburgo chegou a acontecer nos bastidores.