Cadu Doné

Rolando Lero

O futebol brasileiro gosta de rotular. De associações simplórias. Das manchetes fáceis. Dos argumentos populistas. Do julgar por aparências.

Por Cadu Doné
Publicado em 12 de maio de 2021 | 03:00
 
 

Rolando Lero

O futebol brasileiro gosta de rotular. De associações simplórias. Das manchetes fáceis. Dos argumentos populistas. Do julgar por aparências. Nestas nossas bandas, se um técnico recebe pecha não atrelada a determinada aura de intelectualidade, seu time pode funcionar como uma mescla da “Laranja Mecânica” com o melhor do “guardiolismo”: este profissional ainda não será visto qual sumidade da estratégia.

E o contrário também se prova verdadeiro: se o sujeito se vender nas entrevistas arrotando uma meia-dúzia de clichês arrazoando sobre a importância da posse de bola, boa parte da imprensa compra na hora, se desmancha em bajulações; pronto: o jogo está ganho; a equipe chefiada por este “Rolando Lero” com media training é agraciada com um salvo-conduto para a mediocridade. Platitudes travestidas de sofisticação; se o resultado vier, então...

Lisca lúcido

O técnico do América padece por essa mania de julgar por meio da apropriação de lugares-comuns pescados preguiçosamente. Em algum local da limitada mente do homem-médio o cérebro parece inviabilizar, sem que exista qualquer relação entre estes elementos, a concomitância de certa informalidade no comportamento com a inteligência e o repertório teórico para se posicionar acima da média do meio em que se milita.

Pelo jeito despojado, pelo temperamento por vezes, digamos, um tanto “sanguíneo”, Lisca não colhe os elogios que merece pelos seus atributos concernentes à esfera tática do esporte bretão. Seu sucesso não se deve somente à liderança...

Variando sistemas

Desde que assumiu o alviverde, Lisca adotou o 4-3-3/4-1-4-1 como seu esquema de predileção. Nunca esteve perto, porém, de morrer abraçado com ele. No ano passado, em estimulante duelo com Sampaoli, transformou seu time na volta do intervalo, passando a posicioná-lo num 4-4-2 com losango no meio.

Nesta oportunidade, Sávio e João Paulo – dois laterais esquerdos – se encontravam em campo simultaneamente; ao contrário do espalhado, o segundo não operou aberto pela ponta canhota na “segunda linha”.

Xeque-mate

Naquela tarde de instigante disputa entre “professores”, o suposto ala trabalhou, na realidade, como um meio-campista que transitava entre o centro e a esquerda. A dupla de ataque atazanou a saída de bola alvinegra. A criticada troca – por se mostrar, na binária cabeça de alguns, defensivista (Léo Passos, atacante, saíra para a entrada de João Paulo) – tornou o América presença constante no campo ofensivo. O Coelho marcou o gol de empate muito pela leitura impecável de seu comandante. 

Superando o Cruzeiro

Nos triunfos pelas semifinais deste ano, Lisca se destacou com ingerência ímpar na materialização dos placares. Suas alterações transfiguraram o conjunto completa e positivamente na etapa derradeira da primeira partida.

No último domingo, a fuga do sistema usual – optou por duas linhas de quatro e uma dupla de frente – desnudou-se com eficácia notável; novamente, a formação com dois homens centralizados no ataque combustou a eficiência da marcação alta.

Privacidade

Se o vazamento de papos nos vestiários virar rotina, não sobrará ninguém; o politicamente correto não deixará sobreviventes.

Invasão

Brincadeiras e/ou desabafos em ambientes privados não necessariamente refletem as genuínas opiniões da vítima de invasão.