Carla Kreefft

Carla Kreefft escreve neste espaço às sextas-feiras E-mail: carlak@otempo.com.br

Espontâneo como deve ser

Publicado em: Sex, 20/02/15 - 03h00

O Carnaval de Belo Horizonte foi um verdadeiro sucesso. Contou com todos os ingredientes de que uma grande festa precisa. Gente bonita e animada nas ruas, poucos problemas de segurança, blocos organizados na medida certa, concurso de marchinhas, um pouco de protesto e os desfiles na avenida Afonso Pena para que fossem vistos.

É claro que o poder público deu sua contribuição. Havia banheiros químicos, ruas interditadas para dar espaço às concentrações dos blocos e policiamento nas ruas. Mas o que mais contribuiu com o Carnaval foi a vontade da população de ir para a rua e fazer a sua própria festa. Foi uma explosão de espontaneidade como nunca se viu nesta cidade. O que demonstra que o mineiro e, especialmente, o belo-horizontinho gostam do Carnaval. Se nada acontecia antes é porque faltava oportunidade para “colocar o bloco na rua”. Vontade não faltava.

Na proporção em que alguns blocos foram aparecendo e crescendo, o que parecia impossível estava feito. Era o pontapé inicial. Donos de bares, restaurantes e hotéis tiveram a sensibilidade de perceber ali um bom negócio. Com as portas abertas e bandas contratadas, o sucesso foi garantido. Não teve quem não gostou.

Mas o que isso tem haver com a política? Tudo. É um excelente exemplo para demonstrar como a população precisa ser ouvida e percebida. A espontaneidade e a vontade não combinam com imposição e nada têm a ver com o planejamento estratégico de campanha ou marketing político.
Cada vez mais, as eleições no Brasil estão se tornando um espetáculo. O eleitor fica só assistindo àquilo que os candidatos e seus marqueteiros acreditam que ele que ver e ouvir. A sensibilidade passa longe das campanhas eleitorais.

Há quem diga que pesquisas são feitas para identificar o desejo do eleitorado. O que não é exatamente o que acontece. As pesquisas são feitas muito mais no sentido de confirmar um interesse eleitoral do que de perceber uma demanda popular. É claro que o poder que envolve essas escolhas é enorme. O que acontece, então, é sempre uma tentativa de criar na sociedade um interesse que foi previamente determinado por grupos econômicos e políticos influentes. E, em época de redes sociais, criar vontades e desejos não é coisa complicada.

Em meio a tanta artificialidade, o Carnaval da capital vem demonstrar que a história pode ser diferente. E é bom que a população de Belo Horizonte fique atenta, porque depois da festa bem-sucedida já estão aparecendo os oportunistas de plantão. São aqueles que nunca fizeram nada, mas adoram se apoderar do que foi construído coletivamente. Se isso acontecer, será o fim da festa. Como diz a música: “Não põe ordem no meu bloco (...), que a gente não precisa que organizem nosso Carnaval”.

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