Carla Kreefft

Carla Kreefft escreve neste espaço às sextas-feiras E-mail: carlak@otempo.com.br

Guerra do nós contra eles

Publicado em: Sex, 17/10/14 - 03h00

As últimas pesquisas não revelam muito mais além daquilo que todos os brasileiros sabem: o país está dividido. Mas onde está essa linha divisória? Quais são as razões que provocam essa cisão? Por que a polarização chegou a essa intensidade?

Os candidatos e suas candidaturas não podem ficar isentos dessa responsabilidade. O discurso do “nós contra eles”, que sempre foi muito usado pelo PT, também foi utilizado pelo PSDB, ainda que travestido de “nós não queremos dividir, mas não podemos deixar de responder”. Assim, petistas e tucanos não se preocuparam em evitar esse acirramento, que transforma cada eleitor com o voto já decidido em um militante fervoroso e disposto a ganhar mais uma adesão na próxima esquina a qualquer custo.

O ambiente de clássico Atlético contra Cruzeiro invadiu as casas, os locais de trabalho e de lazer. Mas, de forma muito mais forte, ocupou as redes sociais de uma maneira, segundo os próprios internautas, insuportável. Porém a incapacidade de suportar ocorre somente em relação ao adversário. No momento de fazer a defesa do seu candidato, tudo é válido e permitido, incluindo ataques ofensivos.

Em outras palavras, a eleição está tirando a capacidade de autocrítica do brasileiro, que parece estar impossibilitado de perceber que faz exatamente a mesma coisa que critica em seu rival. A falta de condições de se olhar no espelho abre uma guerra que, como todas as outras, coloca os dois lados na condição de sem razão. A eleição, especialmente neste segundo turno, é puramente coração, emoção. Em alguns momentos, a raiva que permeia a discussão eleitoral sugere que o fígado tem assumido até mais importância do que o coração.

O resultado de tudo isso é uma campanha política fundamentada basicamente na desconstrução do adversário. Programas e propostas de governo são completamente esquecidos. E o eleitor torcedor não se dá conta de que vai votar sem ter a certeza do que o seu candidato pretende fazer se eleito for. É como um cheque em branco que alguém entrega para outro alguém porque nele confia.

Os brasileiros precisam lembrar que esse roteiro já deu errado. O Brasil já elegeu um presidente que, depois de pouco tempo, foi retirado do cargo em função de denúncias de corrupção. Votar sem conhecer é um risco grande que pode ser assumido ou não.

Pelo debate realizado ontem entre os dois candidatos, é possível dizer que Dilma Rousseff e Aécio Neves não vão colaborar com os eleitores no sentindo de permitir que seus programas e propostas sejam conhecidos. Então a saída é buscar a informação verdadeira em fontes confiavéis, o que, certamente, não será fácil. Mas é preciso ser feito. Do que os candidatos dizem, “eu não acredito em nada, mas desconfio de tudo”. Esse é o lema.

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