Carla Kreefft

Carla Kreefft escreve neste espaço às sextas-feiras E-mail: carlak@otempo.com.br

Quem deve controlar?

Publicado em: Sex, 12/12/14 - 03h00

A democracia brasileira, ainda que de forma atabalhoada, vai conseguindo vencer alguns obstáculos históricos. A denúncia do Ministério Público Federal contra empreiteiros poderosos no país é um excelente exemplo dessa vitória. De maneira inédita, o poder econômico foi rendido. Eles foram presos, indiciados e, agora, denunciados. A Justiça poderá torná-los réus ou não, aceitando ou não a denúncia. Mas, segundo informações de fontes ligadas ao Ministério Público, a denúncia está muito “redonda”, e dificilmente haverá uma negativa sistemática por parte da Justiça.
Assim, o país começa a conviver com algo que, até há alguns anos atrás, era impensável. Ver políticos influentes serem condenados, como aconteceu no processo do mensalão, não era algo crível há uma década. Ver empreiteiros sendo conduzidos pela Polícia Federal para a prisão enquanto cobriam os rostos com as mãos ou as camisas não era um fato previsível ou esperado, mesmo agora.

Por outro lado, imaginar que o estandarte da economia brasileira, a Petrobras, seria reduzido a uma empresa a serviço de interesses políticos e da cobiça de homens que se dedicam a ganhar dinheiro por meios ilícitos também não era algo cabível no entendimento da população.

Fato é que essas coisas estão acontecendo e terão, certamente, consequências importantes para o país. A cobrança por maior transparência nas empresas públicas, sejam federais ou estaduais, é uma dessas consequências. Mas, certamente, criar uma cultura de punição é a resultante mais forte desse processo. O dinheiro não foi capaz de impedir que os mensaleiros fossem condenados e, muito provavelmente, também não será motivo para não punir os donos de grandes construtoras deste país.

Lamentavelmente, entretanto, o uso político de fatos como esses sinaliza para a necessidade de um cuidado. Trata-se de um alerta. Independentemente da confirmação ou não das denúncias, é preciso questionar se elas aconteceriam em um ano em que não houvesse eleições. Também é necessário entender qual a era intenção daqueles que, de alguma forma, contribuíram para que as investigações acontecessem ou para que fossem impedidas. Fica uma pergunta: “A sociedade está ou ficará ciente de tudo o que ocorreu naquela importante empresa?”

É evidente que a população ainda não recebeu respostas para todos esses questionamentos, mas também é correto dizer que o cidadão brasileiro está mais perto das verdades. O que falta fazer agora é separar o fato das intenções que o geraram e, de maneira prudente, aproveitar o escândalo para iniciar aquilo que sempre deveria ter existido sobre a Petrobras e outras empresas públicas: controle social, que é a fiscalização constante da sociedade e a participação cidadã nos conselhos.

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