Chuteiras e Gravatas

Thiago Nogueira é repórter do Super FC e escreve sobre política, finanças, direito, marketing, patrocínios, televisão, games e tudo o que movimenta os bastidores do futebol.

Acredite, há esperança que a Conmebol melhore

Publicado em: Sex, 22/03/19 - 03h00

Para toda ação, há um propósito. Na última terça-feira, a Conmebol realizou em Luque, sua sede no Paraguai, um encontro dos treinadores que disputam a Copa Libertadores. Vinte e cinco técnicos estiveram presentes, entre eles, Mano Menezes, do Cruzeiro, e Tiago Nunes, do Athletico-PR. Levir Culpi, do Atlético, preferiu não ir. E o que a entidade pretendia com a reunião? É clara a tentativa da confederação de se mostrar competente, organizada e transparente depois dos escândalos de corrupção que fizeram uma limpa em coronéis da bola mundo afora. Foi uma espécie de fórum de debates, com a cúpula da Conmebol apresentando seu trabalho e abrindo espaço para questionamentos dos treinadores. O presidente Alejandro Domínguez, que assumiu o posto em janeiro de 2016, apresentou seu depoimento, partindo do estereótipo que muitos têm para com a Conmebol: uma entidade arcaica, que não passa confiança. E é justamente isso que ele pretende combater. Da mudança da logomarca à europeização da Libertadores, tudo isso, esteve em discussão.

Preconceito

Convidado, o técnico Levir Culpi não quis ir ao Paraguai. Felipão, do Palmeiras, Abel Braga, do Flamengo, Renato Gaúcho, do Grêmio, e Odair Hellmman, do Internacional, também não foram. A dupla Grenal, no entanto, enviou auxiliares. Afinal de contas, fazer o que lá? Levir foi perguntado na semana passada se iria ao encontro. Fora do microfone, ele disse que não iria, deixando implícito a insatisfação que aquilo pouco acrescentaria de importante para ele ou para o clube.

Transparência

O encontro dos treinadores foi longo, durou das 10h às 15h. Usando-se do princípio da publicidade que uma boa gestão precisa ter tudo foi transmitido ao vivo pelo Facebook – o vídeo, de quase quatro horas, está lá para quem quiser rever. Até ontem, eram 16 mil visualizações. Num passado recente, não imaginaria discussões assim sendo externadas ao público. Os responsáveis pela arbitragem, área médica e Tribunal de Disciplina da Conmebol também falaram.

Instruções

Técnico do Boca Junior, Gustavo Alfaro foi um dos mais participativos. Ele deixou claro seu ponto de vista e fez questionamentos. O treinador defendeu a classe e perguntou por que um técnico suspenso deve ser proibido de dar instruções a seus jogadores no vestiário. No ano passado, Marcelo Gallardo, do River Plate, descumpriu a determinação na cara dura na semifinal contra o Grêmio. Alfaro acha justo não ficar no banco de reservas mas, a proibição de ir ao vestiário, absurda.

Campos

Técnico do San Lorenzo, Jorge Almirón reclamou das condições de alguns campos na Libertadores, exigindo que a grama esteja bem cortada e a marcação padronizada. O presidente Domínguez disse estar ciente da situação e que estão trabalhando para isso. É o mínimo! O velho bordão “tem coisas que só acontecem em Libertadores” está sendo combatido pela Conmebol. Na edição deste ano mesmo, as traves do estádio Luis Franzini, em Montevidéu, estavam fora dos padrões.

Deslocamento

A preocupação de Miguel Ángel Portugal, do Jorge Wilstermann, é com os atos de racismo e discriminação. Ele pediu punições severas para casos assim. Técnico do Alianza Lima, Miguel Russo, levantou uma questão de logística dos visitantes. A Conmebol pede para que os horários sejam cumpridos mas, muitas vezes, é a primeira vez que aquela equipe está numa cidade. Eles nunca vão saber qual o caminho não vão pegar engarrafamento.

Ponderações

A Conmebol prometeu abrir um canal para receber as reivindicações de treinadores e clubes formalmente até o meio do ano, para que os assuntos possam ser discutidos, aprovados e passem a constar no regulamento do ano que vem. Diante de todos os problemas, há de se ressaltar que a confederação se mostra propensa a receber sugestões e não se fecha numa única sala. Só não dá para querer transformar o futebol sul-americano em europeu.

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