Chuteiras e Gravatas

O clube-empresa sobrevive no Brasil?
Publicado em: Fri Dec 14 02:00:00 GMT-03:00 2018

Estamos preparados para transformar nossos times em clubes-empresa? Essa foi uma das questões discutidas no III Debate Pense Bola, promovido pela Think Ball & Sports Consulting, há duas semanas, em São Paulo. Acompanhei o encontro por streaming. Atualmente, os presidentes cuidam de clubes com orçamentos milionários, precisam prestar contas a conselheiros, montar times fortes e agradar a seu torcedor. Nossas equipes, que são, na verdade, associações esportivas sem fins lucrativos, se sustentam muito pela paixão de aficionados, patrocínios e cotas de TV, mas vivem endividadas, para não falar daqueles que desapareceram do mapa. Mundo afora, cada dia um time de futebol é comprado, citando aqui PSG, Chelsea, Manchester United, Arsenal e Milan com exemplos. Em resumo, podemos dizer que um clube-empresa, que vive sob critérios de governança e resultados, é um ente muito mais atrativo para receber investimentos. Por outro lado, as associações esportivas levam a melhor na isenção de impostos e outros benefícios fiscais.

Diferenças

No modelo atual dos clubes brasileiros, se há resultado positivo, o dinheiro não é distribuído para os associados, devendo ser reinvestido no próprio clube. É por isso que, na grande maioria das agremiações, seus dirigentes não são remunerados. Se eles não ganham para isso, não há dedicação exclusiva, o que dificulta o profissionalismo. No modelo de empresa, a transparência de informações, a equidade, a prestação de contas e o respeito às leis são pilares.

Auge

Com filiais no Rio de Janeiro e em São Paulo, o Audax, criado nos anos 80 e que pertencia ao grupo varejista Pão de Açúcar, do empresário Abílio Diniz, chegou ao auge com o vice-campeonato paulista, em 2016, perdendo a final para o Santos, mas, em meio à crise financeira no país, acabou vendido ao empresário Mário Teixeira, que era membro do conselho do Banco Bradesco e conselheiro do Grêmio Osasco. 

Exemplo

CEO do RB Brasil, Thiago Scuro destrinchou como eles funcionam. O RB, da marca de bebidas energéticos Red Bull, é um dos poucos clubes-empresa atuando no futebol brasileiro – a a organização também investe em outros esportes, como na Fórmula 1. A empresa tem times também na Alemanha, EUA e Áustria, onde fica sua sede. Scuro é o representante da empresa na América do Sul, não foi eleito. Foi contratado para a função, ou seja, não vive em um regime presidencialista. 

Resultados

Em um clube sob o conceito de empresa não se pode trocar de treinador porque acha que deve. Se assim precisar, é necessário justificar o que isso representa financeiramente. Mas uma boa gestão é garantia de título? Não. Para Scuro, o resultado positivo tem inúmeras variáveis, mas uma boa gestão torna o clube mais propenso a vencer, mais atrativo para investidores. No fim das contas, o que se visa é o lucro, algo que está intrinsicamente ligado aos resultados.

Desvantagens

Se os clubes comuns costumam pagar salários por fora (por direitos de imagem), aproveitam-se de isenções, as empresas precisam pagar PIS e Cofins, emitem documento fiscal etc. Na prática, o “dinheiro vale menos”, o que pode ser uma grande desvantagem. É por essas e outras que o mercado brasileiro não é visto como apto a investimentos no futebol. Seria preciso implantar ambientes menos passionais, com ideias estruturadas, indicadores e ferramentas de gestão.

Pausa

Com a redução do número de páginas das edições do SUPER FC neste fim de ano, esta coluna não será publicada nas próximas semanas, retomando no próximo ano os assuntos de bastidores e gestão do futebol. Sugestão de temas e discussões são sempre bem-vindas, como fez Otávio Geraldo, no mês passado, em carta (isso mesmo!) enviada à redação. Ele fez sugestões sobre mudanças na fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro.