Chuteiras e Gravatas

O interesse por trás da Libertadores no Bernabéu
Publicado em: Fri Nov 30 02:00:04 GMT-03:00 2018

Pela primeira vez na história, a final da Copa Libertadores não será no continente onde ela é disputada, uma vergonha para todos os envolvidos, especialmente para a Conmebol, que promove a competição, e os clubes argentinos finalistas. Depois do incidente envolvendo o apedrejamento do ônibus do Boca Juniors ao chegar ao estádio Monumental de Nuñez por torcedores do River Plate e todos os desdobramentos do caso, o segundo e decisivo confronto foi transferido para o Velho Continente. Casa do Real Madrid, o estádio Santiago Bernabéu, na capital da Espanha, vai receber o embate.

No momento em que muita coisa precisa ser repensada nos bastidores do futebol sul-americano, com atitudes mais severas, legislações modernas e punições a contento, o que prevaleceu foi o interesse político e econômico, num verdadeiro leilão entre grandes cidades do mundo para a receber a grande final. Doha, no Catar, Miami, nos Estados Unidos, Assunção, no Paraguai, Paris, na França, entre outras, também mediram forças.

Comercial

Ex-colônia espanhola, a Argentina tem, de fato, ligação histórica com o país que vai receber a final da Libertadores. A comunidade argentina na Espanha também é grande, além de ter pesado também a maior quantidade de voos comerciais entre Buenos Aires e Madri. Patrocinadora da Libertadores, a empresa aérea Qatar Airways, e o governo do Catar tentaram fazer lobby por Paris, a capital francesa, sede do PSG, que pertence à empresa ligada à família real catari.

Conta

A escolha de Madri seguiu sugestão do presidente da Fifa, Gianni Infantino, que ressaltou o fato de o estádio ser maior, o que daria mais visibilidade e, ao mesmo tempo, mais faturamento. Mesmo não sendo em Paris ou mesmo em Doha, o governo do Catar, sede da próxima Copa do Mundo, aceitou pagar as despesas do evento. Segundo a “Folha de S.Paulo”, o bom relacionamento entre a Conmebol e os organizadores do Mundial de 2022 ajudou a manter o patrocínio.

Prêmios

O país do Oriente vai pagar a hospedagem e a viajem das duas equipes para a Europa, além de uma premiação de R$ 28 milhões a ser dividida pelos finalistas. O River Plate vai precisar de grana para ressarcir os torcedores argentinos que compraram ingressos para a final em seu estádio, além de possíveis indenizações cobradas na Justiça pelos danos morais causados pelo cancelamento do jogo em solo argentino. Ainda não foi divulgado como o reembolso se dará.

Teste

A final em Madri, de certa forma, já virou um teste para aquilo que a Conmebol irá fazer em 2019. A partir do ano que vem, a decisão será realizada em uma única partida. Santiago, no Chile, vai receber a primeira final neste formato e tudo será promovido sob a tutela da Conmebol. A intenção é transformar o duelo em um grande evento, que extrapola o campo de jogo e amplia relações comerciais nos ramos turísticos, hoteleiro, de serviços, alimentação e bebidas, entre outros. 

Desprestígio

A Conmebol recebeu oferta de outras cidades para receber a final da Copa Libertadores, como o próprio Mineirão e outras localidades brasileiras. A Arena Condá, da Chapecoense, a Arena Pernambuco, administrada pelo governo local, e até mesmo o Maracanã, palco de duas finais de Copa (uma da Argentina, contra a Alemanha, em 2014), que vive problemas de gestão, também pleitearam sediar a final da principal competição do continente.

Prejuízos

O vexame argentino na organização da final – vandalismo nos arredores do Monumental, superlotação do estádio, brigas, etc. – mancharam a imagem do país, que pretende ser sede da Copa do Mundo de 2030. Argentina, Uruguai e Paraguai já divulgaram o interesse numa candidatura conjunta, que celebraria cem anos do primeiro Mundial, realizado em terras uruguaias. A sede tripla era considerada a favorita para a eleição da Fifa.