CRISTOVAM BUARQUE

Não basta melhorar um pouco

Levar para todo o país as boas experiências de escolas

Por Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2019 | 03:00
 
 
Arquivo/Agência Brasil

Em entrevista publicada no “Correio Braziliense”, o educador Mozart Neves Ramos deu uma aula para enfrentarmos a tragédia de nossa deseducação. Para Mozart, o importante é construir a escola atendendo as exigências dos tempos atuais. Mas precisamos passar à visão educacionista que nos diga como levar as novas ideias para as 200 mil escolas e os 2 milhões de professores que atendem os 50 milhões de alunos. Como levar para todo o país as boas experiências de escolas e de cidades já em prática hoje.

O primeiro passo é não nos contentarmos em comparar a condição hoje com a educação de 1989 e buscarmos fazer o necessário para que em 2049 estejamos tão bons quanto os melhores do mundo. Vencer essa modéstia é um grande obstáculo. Se não nos convencermos disso, vamos continuar comemorando pequenos avanços, mas ficando para trás em relação ao resto do mundo. 

O atual frágil sistema educacional municipal está melhorando, mas não nos coloca entre os melhores e não nos levará a uma escola de qualidade igual para todos. Para saltar e termos uma das melhores educações do mundo, vamos precisar mudar os pneus do carro e o carro também. Ou seja, enquanto vamos melhorando o sistema municipal atual, será preciso também implantar um novo sistema nacional, paulatinamente, por cidades, ao longo de 20 ou 30 anos.

Para isso será necessário que o Brasil entenda que educação não é apenas um direito de cada brasileiro, como diz a Constituição: é o motor do progresso econômico e da justiça social. O trabalho do MEC deve se concentrar na educação de base, e, aos poucos, o governo federal vai adotando educação de base nas cidades sem condições de dar uma boa escola a suas crianças. 

Nessas cidades, seria necessário implantar escolas novas, com professores de nova carreira federal, bem-remunerada, com dedicação exclusiva e avaliações periódicas, em prédios novos e equipados com o que houver de mais moderno na área de tecnologias pedagógicas. E todas as escolas funcionando em horário integral. Cada escola também teria gestão descentralizada, com liberdade pedagógica. A adoção federal seria voluntária por opção da cidade, não por imposição da União. 

Considerando-se a média de 30 alunos por sala para ter uma boa escola, o custo anual de cada aluno seria em torno de R$ 15 mil. Esse custo/aluno/ano permite pagar um salário mensal de R$ 15 mil ao professor dessa nova carreira. Se o Brasil voltar a crescer a 2% ao ano, ao final de 30 anos, esse novo sistema federal exigiria apenas 6,5% do PIB para atender os atuais 50 milhões de alunos. 

Isso tudo é possível financeiramente, mas muito difícil politicamente e quase impossível mentalmente, porque nós, brasileiros, eleitores e eleitos, não temos grandes ambições intelectuais como nação, e menos ainda temos compromisso de igualdade na educação. Além disso, não queremos alimentar uma ambição que exige décadas, porque nos contentamos com pequenos avanços rápidos.