Cristovam Buarque

Cristovam Buarque é professor Emérito da UnB e membro da Comissão Internacional da Unesco para o Futuro da Educação

Cristovam Buarque

O espírito do tempo e a educação

Publicado em: Sex, 30/07/21 - 03h00

Em janeiro do ano passado, a Unesco criou um grupo de 15 pessoas para elaborar proposta sobre o futuro da educação no mundo, observando o espírito do tempo atual. Nos debates do grupo, do qual participo, observamos a necessidade de captar as mudanças adiante, de acordo com o espírito do tempo, as curvas que a história está fazendo.

Uma mudança diz respeito aos novos recursos tecnológicos, que permitem levar a realidade para dentro da sala de aula e fazer o ensino-aprendizagem a distância, de forma remota entre professores e alunos. O espírito desse tempo induz à passagem da “aula teatral” para a “aula cinematográfica” – uma aula dinâmica, presencial ou não. A escola do futuro será uma nova escola.

A segunda mudança se refere aos novos conhecimentos a serem desenvolvidos. Os potenciais de cada ser humano ficarão interligados planetariamente. No espírito do tempo atual, conceitos como planeta e humanidade dizem respeito ao dia a dia de cada pessoa: os alunos do futuro viverão na Terra, não apenas em um país, e a preocupação deles deve ser com a raça humana. O ensino deverá tratar dos problemas que ameaçam a humanidade: mudanças climáticas; abismo da desigualdade; pobreza e desemprego; inteligência artificial; entendimento do papel da ciência na construção de um mundo melhor e mais belo; a prática da solidariedade com todos os seres humanos que sofrem exclusão e discriminação.

O terceiro desafio é fazer o ensino-aprendizagem em sintonia com o rápido avanço do conhecimento. A educação do futuro exige que o aprendizado seja contínuo; diplomas devem ser provisórios.

É um desafio também, sobretudo no ensino superior, adotar o conhecimento multidisciplinar, única forma de avançar para novas ciências que estão nascendo nas fronteiras das atuais e de trazer os problemas da realidade para dentro do processo de ensino-aprendizagem. Especialmente os problemas éticos que desafiam a humanidade e as possibilidades da educação de base para construir o futuro, ao formar as novas gerações.

O quinto desafio é a coerência entre o conteúdo humanista e planetário e o compromisso político de assegurar o direito de cada criança desenvolver seu potencial, desde a primeira infância, independentemente da nacionalidade e do status social, da renda e do endereço; cada criança do mundo tratada como filha da humanidade. Ninguém deixado para trás na alfabetização para a contemporaneidade: falar, escrever e ler bem seu idioma, falar pelo menos outro idioma, adquirir um ofício, conhecer história e geografia, filosofia e as bases da matemática e das ciências.

Certamente que o espírito do tempo exige um plano mundial para dar apoio à educação das crianças do mundo inteiro.

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