Cristovam Buarque

Cristovam Buarque é professor Emérito da UnB e membro da Comissão Internacional da Unesco para o Futuro da Educação

Nenhum tema foi abordado na perspectiva do longo prazo

O futuro ausente nos debates do segundo turno

Publicado em: Sex, 24/10/14 - 03h00

O debate na TV Globo é o ponto alto do processo eleitoral. Ali, cada candidato tem a última chance para dizer por que os eleitores devem optar por ele ou por ela. Em 2014, o eleitor que buscou o melhor candidato no primeiro turno ficou frustrado pela ausência do tema educação. Ela foi jogada na vala comum, e o assunto não foi sorteado. Pior, apesar de a educação permear todos os temas sorteados, nenhum dos candidatos aproveitou cada questão para apresentar suas propostas de como fazer a revolução educacional que o Brasil precisa iniciar urgentemente.

A verdadeira razão da ausência do tema educação está na ausência do tema futuro.

Das muitas dezenas de horas de entrevistas, discursos, debates e manifestações, os temas debatidos estiveram sempre vinculados aos problemas do presente. Não foram sobre o destino que o candidato sonha para o país e quais as reformas estruturais que levem ao destino que defende.

Mesmo quando o tema da educação apareceu, os candidatos se limitaram a sugerir tempo integral nas escolas, sem dizer como fazê-lo a partir do governo federal, sendo a educação de base uma questão municipal e estadual; nem se discutiu como será a educação nas próximas décadas.

Tampouco como fazer a educação ser igual para todas as crianças, independentemente da cidade onde mora e da renda dos pais. Comemora-se que alguns filhos de pedreiros já entram em alguns cursos superiores, sem propor como fazer para que todos os filhos de todos os pedreiros tenham a mesma oportunidade para disputar o ingresso nas melhores universidades.

Debateu-se a manutenção do Bolsa Família, mas não se debateu como e em quanto tempo nenhuma família brasileira necessitará de auxílio para garantir sua sobrevivência.

Em um mundo que se globaliza em todos os aspectos, inclusive pelas epidemias, como se vê agora com o ebola, o problema da segurança nacional não foi debatido.

Debateu-se a baixa taxa de crescimento do PIB no presente, sem se discutir que tipo de desenvolvimento é desejável para o Brasil no futuro: se vamos continuar basicamente com bens primários ou concorrer mundialmente com bens de alta tecnologia. Ninguém propôs e nenhum entrevistador perguntou como abrir as portas para o Brasil ingressar no mundo dos países inovadores.

Debateu-se como ampliar o sistema de segurança, mas não se discutiu como fazer as cidades serem tão pacíficas que não se necessite do Estado policial que estamos construindo.

Nenhum tema foi abordado na perspectiva do longo prazo. O debate ficou prisioneiro do imediato, como se estivéssemos escolhendo um gestor para apenas administrar a crise, e não um estadista para reorientar os destinos nacionais.

Felizmente, ainda temos uns dias antes do segundo turno, além do que, a cada quatro anos, a democracia oferece novas oportunidades ao país e seu futuro ausente.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.