Cristovam Buarque

Via alternativa: publicizar

Empresas servindo ao interesse público com eficiência

Por Cristovam Buarque
Publicado em 09 de fevereiro de 2024 | 07:10
 
 
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Faz anos que analistas e militantes políticos denunciam o extremismo na política e tentam defender uma terceira via, esquecendo que o problema dos polos não está nas posições extremas, mas no fato de que ambos são conservadores em posições nostálgicas. Mais grave, a terceira via se limita a dizer que nem é de um lado, nem é do outro lado, sem apresentar via alternativa. A política brasileira está dividida entre dois polos obsoletos e um centro vazio.

Um exemplo do obsoletismo está na visão da esquerda, que acredita que o bom funcionamento da economia depende da estratégia do século passado de controle e tutela do Banco Central pelo Estado. Do outro lado, a visão da direita, que defende o fim do papel do Estado na economia. No meio disso, a terceira via não apresenta alternativas para o papel do Estado na estratégia de crescimento econômico.

A calcificação das forças políticas em extremos deixa a política brasileira dividida entre privatizar as atuais empresas estatais, mesmo que isso tire delas o papel estratégico para o país, e mantê-las nas mãos do Estado, mesmo que sigam ineficientes, sem compromisso público e servindo a interesses de servidores e partidos no poder.

Muitos dos que defendem o setor privado querem subsídios públicos para cobrir a ineficiência de suas empresas, pagar o mínimo ou mesmo sonegar impostos, usar o lucro para financiar consumos conspícuos de seus donos, sem preocupação com inovação e geração de emprego, aceitando desemprego e arrocho de salários, além da constante e perversa degradação social.

Por outro lado, os que defendem a estatização consideram que estatal é sinônimo de público e, com empreguismo, fecham os olhos à corrupção, à ineficiência e ao desrespeito com que os usuários dos serviços estatais são tratados. Usa-se até mesmo a nobre ideia de democracia para defender que a estatal pertence aos seus empregados, e não a todo o povo brasileiro. 

Além da miopia ideológica decorrente do vício de ver o interesse do público como sinônimo de estatal, o eleitoralismo e o fisiologismo dos partidos impedem de optar por eficiência sem corrupção, sem empreguismo e com compromisso das estatais com o povo brasileiro.

No lugar de reclamar da calcificação dos extremos, a via alternativa deve defender a publicização da atividade empresarial; algumas empresas servindo ao interesse público nas mãos do setor privado com eficiência, outras em mãos do Estado, desde que servindo ao interesse público, e não de seus servidores e dos políticos no poder.

Mas é difícil pensar que uma acomodada terceira via se transforme em uma via alternativa. Provavelmente, ela vai continuar no vazio de um centro que reclama dos polos sem ter propostas próprias.

Cristovam Buarque é professor emérito da UnB e membro da Comissão Internacional da Unesco para o Fundo da Educação