DANIEL BARBOSA

Música que pede passagem

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 09 de maio de 2018 | 03:00
 
 
Hélvio

O Teatro Sesiminas abrigou, no último fim de semana, mais uma edição do Prêmio BDMG Instrumental, que, ao longo dos últimos 18 anos, vem revelando e dando asas à talentosa cena local. Seis concorrentes se apresentaram na noite de sexta-feira e outros seis, no sábado. Desse total, seis finalistas subiram ao palco mais uma vez na noite de domingo, numa disputa da qual sairiam quatro vencedores. A comissão julgadora, que tive a honra e o prazer de integrar neste ano pela terceira vez, também elegeu os dois melhores instrumentistas entre todos que se apresentaram e o melhor arranjo para um tema consagrado da música brasileira, apresentado por cada um dos concorrentes juntamente com duas obras autorais.

Na fase eliminatória, um dos grupos foi classificado por unanimidade pelo júri, formado por outros jornalistas do Estado, técnicos das unidades do Sesc de São Paulo, que recebem as apresentações dos vencedores, e ainda músicos do quilate de Arismar do Espírito Santo, Aliéksey Vianna, Eduardo Neves, Paulo Braga, André “Limão” Queiroz e Marco Pereira, que presidiu a comissão. Na apresentação de domingo, esse mesmo grupo foi novamente aclamado por unanimidade. Não bastasse, a mesma formação também venceu na categoria melhor arranjo e projetou os dois melhores instrumentistas, na avaliação dos jurados. Em suma, cabe dizer que, dos 12 concorrentes, um se destacou com folga, causando pasmo não só entre os votantes, mas também na plateia, que aplaudiu efusivamente.

A retumbante conquista deveu-se à beleza dos temas autorais apresentados, à impecável execução, à excelência dos músicos que compunham o grupo, à originalidade da formação e à sensibilidade e inteligência com que o arranjo de “Corrupião”, de Edu Lobo, foi feito. E revelar que a responsabilidade pelo feito coube a uma mulher, a única entre os 12 concorrentes, acompanhada por um grupo que, à exceção do baterista, era integrado apenas por mulheres, não relativiza nenhuma dessas impressões – ou pelo menos não deveria relativizar. A pianista Luísa Mitre e o time que a acompanhou – a vibrafonista Natália Mitre, a baixista Camila Rocha (as duas vencedoras do prêmio de melhor instrumentista), a flautista Marcela Nunes e o baterista Paulo Fróis – mereceram todos os lauréis pelo trabalho que apresentaram não por serem mulheres, não por simpatia dos jurados às pautas feministas que guiam movimentos como o Me Too ou Time’s Up, não por complacência – o que, se fosse o caso, penso que seria apenas mais um reflexo de nosso velho e arraigado machismo. Elas ganharam pelo trabalho que apresentaram, simples assim.

Falando à plateia, Luísa refutou, enfática, que tenha propositalmente montado um grupo majoritariamente feminino – convocou os músicos que a acompanhariam pela competência, e por um acaso três deles eram mulheres. Também observou que, se isso ainda causa algum estranhamento (e pode, eventualmente, até virar mote para uma crônica), é pela falta de representatividade. Luísa é a segunda mulher a vencer o BDMG Instrumental em 18 anos de premiação (antes, apenas Daniela Rennó tinha alcançado o feito, em 2009). “O reconhecimento é muito importante. É dessa forma que vamos ocupando um espaço que ainda é dominado pelos homens. Quanto mais tivermos esse reconhecimento pelo nosso trabalho, mais mulheres serão incentivadas a também buscar esse lugar”, disse, ao ser entrevistada diante da plateia, que entendeu a colocação e respondeu com uma calorosa ovação. Se persiste a ideia de que, em ambientes predominantemente masculinos, as mulheres têm que fazer melhor que os homens para marcar seu espaço e serem respeitadas, então, no caso, elas fizeram.

Vale ressalvar que a exuberância do trabalho apresentado por Luísa e seu grupo não diminui o talento dos outros três vencedores – os grupos capitaneados pelo pianista Davi Fonseca, pelo trombonista João Machala e pelo guitarrista Matheus Barbosa – nem de nenhum dos outros concorrentes, todos um pouco responsáveis por fazer da premiação uma vitrine do altíssimo nível da música instrumental produzida em Minas Gerais. Cada um dos quatro vencedores ganhou um prêmio em dinheiro e a produção de um show em BH, no CCBB, e outro em São Paulo, nas unidades do Sesc.