Daniel Barbosa

O edifício VII

Publicado em: Sex, 04/08/17 - 03h00

Depois que saiu da escola, Davison correu para se garantir na primeira de fora, mas ao chegar ao local combinado, a rua plana que a sombra do edifício protegia do sol ainda escaldante daquele fim de tarde, não encontrou os amigos jogando bola como de costume, mas reunidos em grupo, observando a certa distância a movimentação de viaturas e policiais em frente a uma das portarias do referido prédio. Moradores, vizinhos e passantes curiosos também se aglomeravam por ali. Davison quis saber o que estava acontecendo e um dos garotos, o primeiro a chegar para a pelada, disse que ouviu do dono da birosca da esquina, que também observava o ajuntamento à distância, que alguém havia sido encontrado morto em um dos apartamentos. “Isso parece que foi o porteiro que pega o turno da tarde que disse pra ele”, esclareceu o tal garoto.

Um outro menino, que mancava ligeiramente e costumava jogar na zaga, se aproximou e especulou que devia ter sido um assalto. “O que eu fiquei sabendo é que o marido chegou em casa, pegou a mulher com outro e deu um tiro nela”, sugeriu outro garoto, com a bola embaixo do braço. “Eu acho que foi assalto mesmo. Parece que o ladrão entrou no apartamento, o morador reagiu e tomou um balaço na cara”, retrucou o coxo. Um outro moleque da turma reforçou a suspeita dizendo que o edifício já tinha sido invadido por bandidos em diversas outras ocasiões. “Teve uma vez que entraram quatro ladrões armados, fizeram uma limpa em vários apartamentos e fugiram na moral. Isso quem me contou foi um menino que morava ai, que eu conheci”, disse cheio de convicção, com um aceno de concordância para o zagueiro manco.

Davison se aproximou da portaria onde estavam os policiais para ver se descobria alguma coisa, ficou ouvindo as conversas, mas não conseguiu captar nada de efetivo sobre o que teria acontecido. Resolveu perguntar para um velho que supôs ser morador do edifício. “Não sei ao certo, parece que encontraram uma pessoa morta em um dos apartamentos, mas ainda vão investigar a causa, não tem sinal de arrombamento, é o que estão dizendo. Pelo que entendi, a pessoa estava sozinha. Não sei quem descobriu o corpo e não tenho certeza se a história é essa mesmo”, respondeu. Davison retornou para o grupo de amigos desanimado. “Pelo visto hoje não vai ter futebol, né?”.

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