Dolce Vita

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Segredos de Minas

Publicado em: Sáb, 21/04/18 - 03h00

Voltou a circular na Internet o episódio do programa “Conversa com Bial”, de Pedro Bial, com Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal. Em maio de 2017, entre outras, a ministra provou conhecer a fundo o espírito de seus conterrâneos mineiros. Transformou nossos piores defeitos, clichês e gozações em filosofia de vida e comportamento charmoso.

Mistérios de Minas

Pedro Bial perguntou se Carmem, entre seis irmãos, era a queridinha do papai (Florival Rocha): “Se eu fosse, não falaria...”. Durante risadas gerais, Bial solta: “Ôooo mineirice!”. E Cármen: “Bem que eu gostaria, mas sou ‘geraizeira’. Você sabe que tem mineiro e tem ‘geraizeiro’, são duas coisas completamente diferentes. O mineiro toma a banana do macaco, deixa o macaco agradecido, satisfeito, como se ele ainda devesse um favor, com uma facilidade impressionante”.

Coisas de Minas

"Eu queria ser, ainda estou aprendendo a ser mineira. O ‘geraizeiro’ briga com o macaco quando o macaco toma sua banana. O ‘Gerais’ é o descampado dos Grandes Sertões. Minas é das sombras, das minas, sem nenhum fatalismo geopolítico. Mas é claro que isso orientou (os mineiros)”. E continuou confessando e divertindo: “Eu moro em Belo Horizonte, adoro BH, quero ficar lá para sempre”.

Coisas de mineiro

"E o mineiro tem uma coisa maravilhosa. Ele fala: ‘Passa lá em casa’. O amigo responde: ‘Passo lá mais tarde...’. Quem convida não deseja, quem aceita não acredita. Não tem erro, esse encontro não acontece e ninguém fica com raiva. A boba aqui convida, fica lá esperando com seu bolinho, a pessoa não aparece e eu fico mal por ter levado o cano”.

Coisas do mundo

Pedro Bial diz que adora a expressão mineira: “fala mais que pobre na chuva”. Cármen responde que tem outra ainda melhor: “‘Como diz o outro’. Ninguém sabe quem é o outro, nunca dá processo, porque não foi você quem disse, foi o outro. Uma beleza, adoro!”. E termina: “Eu só acho graça em Paris porque existe BH. Se fosse Paris sozinha no mundo... Vai que eu tenha que ficar correndo naqueles metrôs o dia inteiro...”.

Casa de Papel

Em novembro do já longínquo 2013, em nossa coluna no jornal O TEMPO, o saudoso e inolvidável intelectual, homem de teatro e cinema Ronaldo Brandão (1940-2016) dava a seguinte ideia/sugestão, uma brincadeira séria: a “Casa do Gay Velho”. “Nós, os gays, temos que ter um lugarzinho seguro para viver os últimos anos. Ela pode ser num bairro mais humilde, na zona norte, não importa”.

Casinha de papel

Continuou Ronaldo: “Serão 24 casinhas, 12 de cada lado e um jardim no meio. Um jardim com jardineiro bonito, para nos alegrar, inspirar a memória. Lá, basta nos um catre, um colchão, uma janela para o gramado. Uma TV em P&B, para ver novela, água e um copo para a dentadura”.

Casinha de brinquedo

"De manhã, cafezinho, pão com manteiga, um copinho de leite. No almoço, coisa mais consistente: arroz, feijão, suflê de ervilha. Bife não, porque velho não tem dente. No fim do dia, um mingau de couve, aveia. Vai ser bem no estilo ABL: morre um gay velho, entra outro”. A “Casa do Gay Velho” seria tipo uma “Casa dos Artistas”. A ideia vingou. Deu no site Perfeito: “Casa de Repouso, que nada! A moda agora é envelhecer com os amigos! Em 2050, o mundo terá o triplo de pessoas com mais de 60 anos. O envelhecimento pode ser algo bem vivido, com qualidade de vida”.

 

Lança-perfume

A moda é a Cohousing, esquema de moradia criado na Dinamarca que valoriza o contato com os amigos em comunidade. “Cada morador ou casal tem sua casa e espaços comuns para convivência. O modelo deu certo na Europa, Estados Unidos e chega ao Brasil, em Piracicaba (SP)”.

Em Minas, Tobias Machado Neto tem boas ideias, pensando na dignidade das pessoas que chegam à maturidade. Ele sabe que os primeiros serviços públicos a sentirem os efeitos são a Saúde e a Previdência, que já estão em frangalhos.

Por isso, cresce o número de planos privados de previdência. Hotéis geriátricos inevitavelmente ocuparão o lugar das famílias. Os filhos não terão tempo e meios para cuidar dos pais!

Daí, desenvolver projetos que contribuam para melhorar o que já existe e, sobretudo, criar novas opções. Uma ideia já é estudada por algumas construtoras de Belo Horizonte, uma espécie de apart-hotel, que além da infraestrutura normal, teria espaços de lazer, social e ambulatorial apropriadas não só aos idosos. Seria, no mínimo, um bom investimento imobiliário, independentemente do proprietário utilizá-lo para si ou alugá-lo a terceiros. 

Mônica Gonçalves recebe convidados para um talk com Fernando Campana. O encontro acontece na Trousseau, em Lourdes no dia 3 de maio.

 

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