EDITORIAL

A maioria ofendida

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 11 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 

Durante muito tempo, por artes e manhas do sistema que se estabeleceu no país, a sociedade não soube dos privilégios gozados pelas pessoas que detêm poder, sobretudo as pertencentes aos serviços públicos, como os servidores do Estado. Isso, no entanto, está mudando.

A cada dia que passa, fica mais difícil a esses cidadãos sustentar moralmente “direitos” que a maioria de seus concidadãos não possui, tendo de conquistá-los, se o conseguem, a duras penas. É o caso, por exemplo, do auxílio-moradia, assunto de reportagem de O TEMPO de ontem.

Em levantamento preliminar, feito a pedido de um senador do PSOL, serão gastos neste ano cerca de R$ 2 bilhões no pagamento desse benefício nos Três Poderes, no Ministério Público, na Defensoria Pública e em tribunais de Contas dos Estados e dos municípios.

O montante contempla certa de 30 mil autoridades com valores entre R$ 4.000 e R$ 4.500 por mês para pagamento de aluguéis e outras despesas de moradia. O beneficiário não precisa prestar contas e recebe o auxílio mesmo quando já possui imóvel próprio.

Em suma, o benefício virou salário, que, para grande parte desses brasileiros, chega perto – quando não ultrapassa – do teto de R$ 33,7 mil mensais. Com aqueles valores, o agente ou servidor do Estado pode alugar uma residência confortável, se não de alto padrão.

Realidade muito diferente daquela da maioria dos brasileiros, que tem de custear sua habitação com os recursos do próprio salário. Pior: são esses mesmos cidadãos que pagam, com os impostos que recolhem, a moradia e outras mordomias daquelas autoridades privilegiadas.

O despropósito é evidente. Os recursos que vão para esses verdadeiros marajás dariam para construir 40 mil casas populares e beneficiar 11 milhões de pessoas pelo Bolsa Família, além de serem maiores do que aquilo que o governo vai gastar neste ano em cultura, energia e saneamento.

Para completar, o auxílio-moradia constitui uma das formas de se sabotar o ajuste fiscal.