Editorial

Cicatriz de Hiroshima

Os 75 anos da explosão da bomba atômica no Japão

Por Da Redação
Publicado em 06 de agosto de 2020 | 03:00
 
 

Ao ver a imensa bola de gases incandescentes e detritos devastar o porto de Beirute e matar mais de cem pessoas, o prefeito da capital libanesa não hesitou em compará-la à explosão em Hiroshima. Isso exemplifica como a detonação da primeira bomba atômica no Japão marcou indelevelmente a cultura humana.

Hoje completam-se 75 anos do primeiro uso de um armamento nuclear contra seres humanos. Estima-se que mais de 66 mil pessoas tenham morrido devido a queimaduras, lesões múltiplas ou efeitos da radiação deixada pelo famigerado “cogumelo atômico”.

Há décadas, o mundo tem vivido sob a ameaça de uma hecatombe nuclear. No auge da Guerra Fria, as principais potências detinham mais de 60 mil ogivas, com capacidades mais de cem vezes superiores à da bomba lançada em Hiroshima. Hoje, elas somam pouco mais de 10 mil, mas isso não reduz o sentimento de medo.

No ano passado, os Estados Unidos se retiraram do Tratado de Forças Nucleares Intermediário e, em 2020, saiu do Tratado “Open Skies”. Em junho, russos e norte-americanos sentaram-se em Viena, sem sucesso, para rediscutir o Start, acordo de controle do número de armamentos atômicos no qual Washington insiste em ver os chineses participando.

Enquanto o arcabouço diplomático é desmontado, as potências não param de anunciar novos mísseis hipersônicos, foguetes imunes ao radar e torpedos capazes de destruir portos inteiros e bombas menores para usos em guerras locais.

O mundo do terceiro milênio difere radicalmente daquele vivido na Guerra Fria, e os novos desafios demandam ajustes. Mas nenhum deles justifica o horror, a destruição e o morticínio de Hiroshima, que deixaram cicatrizes profundas na memória e no sentimento da humanidade.