Editorial

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Cuba e a história

Publicado em: Dom, 22/04/18 - 03h00

O novo presidente da República de Cuba assumiu, na semana passada, o cargo que foi de Fidel Castro durante 32 anos, afirmando que seu objetivo é dar “continuidade à Revolução Cubana”, que já dura 59 anos.

Como bom discípulo dos Castro, Miguel Díaz-Canel alimentou o mito da revolução permanente, ignorando que elas não se sustentam, sobrevindo em seguida um longo período de conservadorismo.

Foi assim em todos os movimentos que realizaram uma ruptura ruidosa ou sangrenta nas estruturas política e econômica de um país. Invariavelmente, a tendência é o novo poder se assentar sobre seus triunfos.

Em Cuba, como antes na Rússia e na China, o que houve foi a cristalização desse poder. Uma revolução que segue não é revolução, mas a consolidação de uma estrutura burocrática com rituais que se reproduzem.

Díaz-Canel faz parte da burocracia estatal cubana. Foi primeiro vice-presidente do Conselho de Estado e agirá à sombra de Raúl Castro, que manterá os poderes de secretário-geral do Partido Comunista.

Com 57 anos, representa a ascensão de outra geração na direção de num modelo que não admite o capitalismo, embora reconheça ser obrigado a prosseguir em pequenas reformas para superar a estagnação econômica.

Candidato único, Díaz-Canel foi referendado por 604 deputados da Assembleia Nacional numa cerimônia em tudo parecida às que se realizavam na União Soviética e se realizam na China e Coreia do Norte.

Em maio de 1968, o estudante Daniel Cohn-Bendit já pressentia que os revolucionários não sabem antes o que viria depois. É da essência delas a utopia, o desejo que leva estudantes, operários e camponeses às ruas.

A Revolução Cubana vingou, mas como instituição fracassou, ao frustrar os sonhos dos que acreditaram nela. A Revolução Francesa promoveu um banho de sangue, mas seu legado ficou. É o que importa.

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