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Diálogo e democracia

Publicado em: Ter, 02/06/20 - 03h00

As manifestações do fim de semana no país, com confrontos na avenida Paulista entre grupos favoráveis e contrários ao governo e intimidações com tochas diante do Supremo Tribunal Federal, expuseram uma escalada de violência na polarização política nacional. Um movimento em direção diametralmente oposta da democracia que ambos os lados afirmam defender.

Da Ágora grega às votações eletrônicas atuais, a democracia tem sido desde sempre o primado do diálogo, da superação do conflito político pela argumentação racional e do encontro dos diversos na busca do bem comum.

É verdade que, com o crescimento e a sofisticação das nações, a participação direta nos moldes vividos na Atenas antiga por filósofos como Aristóteles precisou dar lugar a modelos mais representativos, indiretos e institucionais. Mas é igualmente verdade que o conceito de cidadão inclui hoje segmentos muito mais amplos do que apenas o dos de homens proprietários de bens. E por terem consciência dessa cidadania, as pessoas reivindicam seu direito a ter voz e a ser ouvido – o que é legítimo e necessário.

Mas engana-se quem confunde atos ameaçadores com a manifestação da democracia nas ruas. Ela está permanentemente em público: não existe democracia privada. Esse regime só se realiza às claras, aberto e com a disposição de todos para o diálogo franco e verdadeiro, naquilo que Abraham Lincoln – presidente num dos momentos mais divididos da história dos EUA – chamou de governo “pelo povo e para o povo”.

A violência armada vitimou Lincoln, mas foi incapaz de silenciar a sua defesa de uma sociedade unida, justa e democrática que ele tão bem sintetizou: “Não devemos ser inimigos. Embora a paixão possa ter desgastado os limites, ela não deve quebrar nossos laços de afeto”.

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