Editorial

Estradas mortais

Combinamos rodovias ruins com motoristas ousados

Por Da Redação
Publicado em 19 de novembro de 2019 | 03:01
 
 

Somos o país que cunhou a Lei de Gérson. Nas nossas ruas, motoristas estacionam em vagas preferenciais, desrespeitam placas de parada obrigatória e abusam da velocidade. Nas estradas é pior, porque muitas vezes elas são mais malcuidadas que as vias urbanas.

A combinação de rodovias ruins com a ousadia do condutor resulta em números tristes como o divulgado ontem pela Polícia Rodoviária Federal: 22 mortos e pelo menos 200 feridos nas estradas federais – concedidas ou não à iniciativa privada – que cortam Minas Gerais no feriado.

Embora todos estejam sujeitos à responsabilidade, fica difícil cobrar postura correta de quem está atrás do volante quando, por mais que ele dirija bem, pode estourar um pneu em uma cratera na via, o veículo aquaplanar por causa da chuva ou bater de frente com outro que só estava na contramão por falta de pista dupla e canteiro central.

Assim, o motorista, em vez de redobrar o cuidado, sente-se – quase que inconscientemente – no direito de fazer o que quiser, porque quem deveria cuidar da pista não está cumprindo seu papel.

Pesquisa feita em 2014 pelo Insurance Institute for Highway Safety (IIHS), organização financiada pelas seguradoras norte-americanas, mostrou que a probabilidade de morte ou lesão incapacitante nas batidas em estradas monitoradas por câmeras e radares era 19% menor que nas demais. Onde os sistemas de detecção de excesso de velocidade são móveis, essa diferença aumentava para 30%.

Após estudo semelhante, a London School of Economics and Political Science (LSE) recomendou a instalação de mais câmeras como forma de salvar centenas de vidas anualmente. Enquanto as estradas não melhoram e os motoristas não se comportam com mais consciência, métodos de controle da velocidade e repreensão ao mau comportamento continuam indispensáveis.