Editorial

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Para os pesquisadores, é como se negros e não negros vivessem em países diferentes.

Mortes no atacado

Publicado em: Qui, 06/06/19 - 03h00

Assinado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foi divulgado ontem o Atlas da Violência de 2019, confrontando dados de 2016 e 2017. Em 2017, 65.602 pessoas foram assassinadas no país – um crescimento de 4,2% em relação a 2016.

Destas, 47.510, ou 72,4%, foram mortas por armas de fogo. O número de pessoas assassinadas por disparos cresceu 6,8% entre 2016 e 2017. Quase 1 milhão de brasileiros perderam a vida em consequência de tiros por arma de fogo entre 1980 e 2017.

Segundo os pesquisadores, o número seria ainda maior se não fosse o Estatuto do Desarmamento, aprovado em 2003. Em 14 anos, o crescimento médio anual de mortes por armas foi de 0,85%, contra 5,44% correspondentes aos anos anteriores ao estatuto.

Este quebrou uma tendência. Na contramão do estatuto, o número de armas em posse de civis vem aumentando desde 2017. Até abril de 2019, houve alta de 10% em relação a 2018 nos registros para a posse de armas concedidos pela Polícia Federal.

As autoridades atribuem as mortes violentas à maior ou menor presença de facções criminosas em Estados e regiões. As mortes subiram em sete Estados, como Acre, Ceará e Espírito Santo, e se reduziram em outros 15, como Rondônia, e no Distrito Federal.

No Espírito Santo, onde desde 2010 a tendência era de queda, o aumento se deveu à greve da polícia. Em Estados do Norte e Nordeste, houve refluxo porque a disputa entre facções se deslocou para outras regiões, o que não os livra de voltar à tona.

Tirante esses fatores, há de se destacar o fato de que 75,5% das vítimas de homicídio no país são negras. É a maior proporção da última década. Nessa população, a taxa de mortes chega a 43,1 por 100 mil, contra  um índice de 16 por 100 mil para não negros.

Para os pesquisadores, é como se negros e não negros vivessem em países diferentes.

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