Editorial

O dilema da velhice

Expectativa de vida aumenta, mas qualidade é incerta

Por Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2019 | 03:17
 
 

Séculos atrás, quem chegava aos 40 anos com todos os dentes na boca era um velho bem-sucedido. Há poucas décadas, os clubes da terceira idade aceitavam pessoas a partir dos 50 – o que seria um insulto para os cinquentões de hoje. O passar do tempo só empurrou para a frente o limiar da definição de idoso.

A expectativa média de vida, divulgada ontem pelo IBGE, subiu para 72,8 anos, no caso dos homens, e 79,9 anos, para as mulheres brasileiras. A projeção do instituto é que a população ultrapasse os 73 milhões idosos até 2060.

Quando falamos de um envelhecimento ativo e saudável, só há aspectos positivos. É toda uma geração de pessoas maduras que praticam atividade física, viajam, namoram, estão nas redes sociais e andam de celular na mão.

O problema começa a tomar forma na hora de bancar isso tudo. O idoso recebe, de fonte pública ou privada, a compensação pelos anos anteriores de trabalho. Quando ele consegue poupar para desfrutar na maturidade, ótimo.

Mas, quando a fonte de renda é a Previdência Social, a conta não fecha. Para o aposentado pelo INSS ou recebedor do Benefício de Prestação Continuada, a velhice se torna um constante exercício de matemática financeira: crédito consignado, parcelamento no cartão, empréstimo com parente, uma conta atrasada aqui, outra ali.

É impossível afirmar, hoje, qual será a origem dos recursos para que a Previdência sustente os 73 milhões de idosos que teremos em 2060. A tendência é que o sistema, nas próximas décadas, sofra outras reformas, e a saída para que ele não seja mais deficitário passará, em algum momento, por restringir o acesso e diminuir os benefícios. Corremos o risco de ter, no futuro, idosos que, como hoje, viverão mais, porém com menos qualidade.