Editorial

Leia os editoriais diariamente de O TEMPO

O impasse social

Publicado em: Ter, 24/04/18 - 03h00

Em apenas oito dias, oito coletivos foram incendiados na capital e na região metropolitana. Em alguns deles, os agressores deixaram bilhetes com reclamações de maus-tratos que teriam sido enviadas por detentos do Complexo Penitenciário Nelson Hungria.

Domingo último, próximo dessa penitenciária de segurança máxima em Contagem, dois carros foram incendiados e um terceiro foi danificado. A Polícia Civil investiga a ocorrência a partir da identificação dos donos dos veículos que foram destruídos.

O incêndio de coletivos está se tornando uma prática corriqueira na capital e em outras cidades do país. De modo geral, os ataques são atribuídos a bandidos que exploram alguma atividade criminosa ou são da mesma facção de alguns presidiários.

Os últimos ataques a ônibus começaram no dia 12, em Contagem e Brumadinho, na região metropolitana, e na capital. Um veículo desses custa, em média, R$ 350 mil, e em seu lugar não é posto outro para circular imediatamente. Por dia, 500 pessoas são prejudicadas. 

Especula-se que, na Nelson Hungria, o clima seja de tensão, por causa de mudanças que estão para serem feitas pela administração. Porém, os carros destruídos não seriam de agentes penitenciários, mas de visitantes de presos envolvidos em rixas internas.

Talvez essas ocorrências sejam a forma como se expressam alguns setores da sociedade que não têm meios de vocalizar suas demandas. Como não têm força política, manifestam-se por meio de ações de vandalismo contra equipamentos públicos e particulares.

São atos desesperados e irracionais, mas que vão, aos poucos, tomando conta de outras partes da sociedade brasileira. Quando as instâncias regulares de escuta não surtem mais efeito, a tendência é o mal se propagar, como rastilho de pólvora.

Durante o regime militar, um artista verbalizou o impasse social, dizendo que, “quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha”.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.