EDITORIAL

O rio em transe

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2017 | 03:00
 
 

O jornal de domingo proclamava que os “militares não controlam a ‘guerra’ no Rio”, informando com isso que o cerco das Forças Armadas à Rocinha, considerada a maior favela do país, não conseguiu interromper a troca de tiros.

Há uma semana se estabeleceu um conflito entre dois traficantes pelo controle daquela região da zona Sul, vizinha de uma das áreas mais ricas do Rio, levando o governo do Estado a pedir a ajuda do ministro da Defesa.

Nesse período, gente morreu baleada e gente foi presa. Também armamento pesado chegou a ser apreendido. No entanto, nenhum grande carregamento de droga caiu nas mãos das autoridades, mas apenas pequenas quantidades.

A explicação é que a Rocinha não é mais um entreposto de droga, mas um dos centros de grande consumo do Rio. Com 70 mil moradores, a comunidade é uma verdadeira cidade, funcionando 24 horas por dia.

Lá, tem comércio que não fecha hora nenhuma. O morador encontra de tudo na Rocinha. Celebridades frequentam o lugar. Tudo custa mais caro porque os chefes do tráfico não vendem só aquele tipo de mercadoria.

Agem também como milícia. Cobram por proteção. Dão empregos. Controlam o comércio de imóveis. Vendem água, gás e TV a cabo. Pedestres e motorizados, sejam visitantes ou moradores, todos pagam pedágio.

O poder ali vale muito. É por isso que é tão disputado, inclusive a tiros. Resulta da secular omissão do Estado com as regiões pobres. Em todo o país, essa ausência estimula o desenvolvimento autônomo das comunidades.

Mas estas imitam o país. Constituem um microcosmo do Brasil capitalista, com seus índices de consumo e violência. Informalmente, reproduzem a sociedade afluente que admiram e que é refletida nos programas de TV.

Como sempre, as autoridades demonstram que não estão entendendo nada. Contiveram a febre à força enquanto foi preciso dar acesso ao público do Rock in Rio pela estrada Lagoa-Barra. Daqui a pouco, tudo se acomoda.