Editorial

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Tragédia nacional

Publicado em: Sáb, 13/04/19 - 03h00

O temporal que se abateu sobre o Rio de Janeiro, no começo da semana, e que resultou em dez mortos teve mais efeitos ontem, com o desabamento de dois prédios no aglomerado da Muzema, no Itanhangá, na baixada de Jacarepaguá. A favela foi uma das áreas mais atingidas pelas chuvas. Até quinta-feira, ruas ainda estavam alagadas. Dois prédios de quatro e seis andares ruíram, matando pelo menos cinco pessoas.

O desastre expõe, em maiores dimensões, uma situação que ocorre em todas as grandes cidades do país: a falta de habitações. No Rio, ela é agravada por outros fatores, como a topografia da cidade, a existência de milícias etc.

O plano-piloto que Lúcio Costa elaborou para a barra de Jacarepaguá está fazendo 50 anos. No entanto, o que se vê é uma favela de prédios – dezenas de edifícios de até oito andares que fazem desaparecer as casas simples de antes.

Tudo é obra das milícias, que agem no vácuo da omissão dos governos, provendo moradias sem projeto, responsável técnico ou habite-se. “Constroem sem parar, só pensam em vender, não importam as condições”, lamenta uma moradora.

Um apartamento com varanda “gourmet” e garagem coberta custa R$ 150 mil. O terreno é tomado das áreas de proteção ambiental, as ligações de água e luz são clandestinas, e os esgotos são despejados nos rios e nas lagoas da região.

Na ausência do Estado, as milícias exercem um poder paralelo, fazendo o papel que aquele deveria fazer. Atrás da indústria da construção irregular, ela oferta aos moradores gás, sinal de TV paga, internet, transporte, segurança etc.

Esses aglomerados constituem a maior expressão do nosso subdesenvolvimento, aquilo que faz o país ainda parecer uma “Belíndia”, na definição do economista Edmar Bacha. Para corroborar, de vez em quando ocorre uma tragédia.

Por sorte, nem todo dia cai um prédio de favelados. Para variar, edifícios dos “bacanas” também caem, num sinal de que, apesar das promessas de prefeitos e governadores, o Estado não resiste a uma parcela de corrupção.

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