EDITORIAL

Violência contra a mulher

Reportagem de O TEMPO de ontem revela que a violência contra a mulher leva mais pessoas aos tribunais do que os crimes de trânsito

Por Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2018 | 03:00
 
 

Reportagem de O TEMPO de ontem revela que a violência contra a mulher leva mais pessoas aos tribunais do que os crimes de trânsito. Entre janeiro e agosto, foram abertos 68 mil processos, contra 9.000 de trânsito.

A proporção é de sete para um, mas o número, segundo analistas, deve ser maior, já que muitas mulheres que sofrem agressão não as denunciam à polícia. Diariamente, são abertos, em média, 280 processos.

A Lei Maria da Penha considera violência doméstica e familiar toda ação ou omissão com base em gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico, moral ou patrimonial. A lei fez 12 anos.

Apesar disso, os casos de violência só aumentam porque as mulheres vêm se encorajando a denunciá-los, movidas por campanhas oficiais ou independentemente delas. No ano passado, a polícia recebeu 145 mil denúncias em Minas.

A situação se deve ao machismo do homem, que tem dificuldade de reconhecer a emancipação da mulher. Ele ainda se vê como protetor e provedor da família, não aceitando questionamentos, como a rejeição.

O fato de a mulher ganhar mais ou querer uma separação não é admitido por muitos homens, que continuam presos ao modelo patriarcal de sociedade, em que prevalecia a desigualdade de gênero.

Ante a evidência de seu fracasso, o homem busca restabelecer a “ordem natural” (a submissão de mulher e filhos) pela força, chegando à agressão. Neste ano, entre janeiro e junho, houve 187 feminicídios.

Não obstante, a sociedade vem mudando. Em 15 anos, o número de famílias sob responsabilidade exclusiva de mulheres duplicou. As famílias chefiadas por homens reduziram-se de 72%, em 2001, para 59%, em 2015.

Apesar de se esforçar, o Estado tem falhado em dar proteção à mulher. Como, aliás, na contenção dos homicídios em geral. A sociedade está anestesiada com relação à violência, que é considerada “natural”.