ELETRONIKA

Sintetica bota mulheres no comando da noite em BH

Redação O Tempo

Por Claudia Assef
Publicado em 11 de novembro de 2017 | 03:00
 
 
SINTETICA/DIVUGAÇÃO

O ano de 2017 está quase no fim, e podemos dizer que ele foi importantíssimo para o aumento do protagonismo das mulheres na música. Em BH, além da festa MASTERplano, que tem mulheres incríveis no comando e nas cabines, outro label chegou recentemente para provar que lugar de mulher é... onde ela quiser. E se esse lugar for a cabine do DJ, melhor!

No dia 14, véspera de feriado, acontece no centro de Belo Horizonte a Sintetica, uma festa inteiramente produzida por mulheres. “Nosso objetivo é inverter a lógica das contratações no meio artístico, que é majoritariamente masculino, e dar oportunidade para as mulheres se expressarem com mais liberdade”, diz Carol Mattos, idealizadora do projeto e também uma das cabeças da MASTERplano.

Seja na produção, no artístico ou nas equipes de bar, portaria e segurança, na Sintetica só trabalham mulheres. O projeto também quer incluir as mulheres trans, que têm muita dificuldade de ingressar no mercado formal. Em sua terceira edição, a Sintetica recebe a DJ Alys, residente em Berlim, junto de um line-up local composto pelas DJs Moretz, Carol M, Tai Tai e Escarbe. Falamos com Carol sobre a ideia da festa.

Explique, por favor, o conceito da Sintetica.

A ideia de fazer a Sintetica partiu de alguns incômodos. O primeiro é o fato de ver várias mulheres incríveis e talentosas com pouca abertura para atuar. Em segundo, o fato de que, ainda que houvesse mulheres excelentes em todas as áreas, elas ainda seriam poucas em relação aos homens e que, para que fossem mais, elas precisariam começar de algum lugar.  Eu queria fazer um espaço em que meninas se sentissem confortáveis em começar. E onde pudessem ter visibilidade e serem valorizadas pelo seu trabalho. E que fossem remuneradas de forma justa e transparente. A Sintetica, como festa, plataforma, ação temporária ou todos os formatos que pode vir a ter, parte daí.

Quem são as criadoras/organizadoras?

Esse desejo inicial partiu de mim e foi se concretizando com várias parcerias, mas a Sintetica é um pouco flutuante. A primeira edição foi pequena, e eu produzi junto com a Belisa, parceira do MASTERp la n o, e já teve uma equipe incrível de minas. A segunda foi gratuita, na rua, com feirinha com trabalhos de várias meninas. Começou à tarde e continuou cheia até as 8h da manhã – pra debater qualquer um que diga que as minas não seguram uma pista! Hoje estão comigo na produção a Lu Escarbe, do coletivo SuperBABY; e a Clara Moretzon, DJ residente da 1010, que me estimularam muito a fazer mais uma edição; a Yonanda Santos, da festa Mientras Dura, na comunicação, e a Thais Azevedo, que faz a parte gráfica e a cenografia também.

Estamos, nós mulheres, avançando em termos de ocupação de espaço no território da música?

Quando pensamos que, de um ano para cá, conhecemos novas DJs incríveis de BH e do Brasil, cada vez mais presentes nos line-ups; que um grande evento como o SP na Rua teve participação feminina em quase todos os palcos; e que esse espaço está sendo cada vez mais reivindicado, é um avanço. No entanto, esse avanço parece insuficiente quando nos deparamos com line-ups de vários festivais ainda inteiramente masculinos e, quando reivindicamos, ouvimos coisas como “não se trata do gênero, se trata de qualidade”, como se não houvesse mulheres com trabalho de qualidade para apresentar. É tão absurdo quanto frequente. Ou quando as mulheres são colocadas apenas para preencher uma “cota”, pra ter o nome no line-up, mas tocam em horários ruins, são mal pagas etc.

BH é uma cidade machista?

Não acho que seja mais ou menos machista que qualquer outra cidade grande brasileira, mas percebemos claramente que aqui existem mulheres extremamente competentes em suas áreas e sem visibilidade. São artistas visuais, produtoras, DJs e VJs com talento para se apresentarem em qualquer lugar do mundo, mas sem saber como dar esse pontapé na sua produção artística e sem um espaço seguro de experimentação. Nessa cena artística e de eventos, é comum ver as mulheres agitando os bastidores, cuidando dos detalhes das produções, mas sem assumir de forma clara um protagonismo. O Carnaval de rua de BH é um bom exemplo, porque é um retrato amplo do cenário artístico independente da nossa cidade: existem muitas mulheres que fazem o trabalho pesado de colocar os blocos na rua, e pouquíssimas são porta-vozes ou “referências” desses blocos. Inclusive, recentemente, surgiu um movimento chamado “As Minas do Carnaval de Belô”, que é uma forma de tomar esse protagonismo e avançar algumas pautas feministas nesse contexto. O grupo de choro de BH Abre a Roda, formado só por mulheres, é incrível e foi criado também para que elas pudessem tocar tranquilamente, já que no meio de uma roda de homens não podem errar de jeito nenhum. BH pode ser uma cidade machista, mas tem muita cumplicidade feminina, e isso é maravilhoso.


Agenda

O quê. Sintetica

Onde. Centro de Belo Horizonte (será divulgado no dia)

Quando. Dia 14, às 23h

Quanto. A partir de R$ 10