Situação recorrente

Central ex-Caramuru é exemplo de 'inferno' vivido por falta de salários

Matheus Alejandro agradece por 'sonho' com acerto com clube de BH após temporadas sem conseguir focar no seu melhor rendimento dentro das quadras

Por Daniel Ottoni
Publicado em 29 de agosto de 2019 | 11:22
 
 
Matheus Alejandro saiu do país, na última temporada, após situação insustentável Divulgação

O central Matheus Alejandro foi apenas um dos jogadores que foram obrigados a se acostumar a não contar com o dinheiro esperado no final do mês. Nas duas últimas temporadas, ele conta ter vivido o que chama de 'inferno' ao defender Canoas (RS) e Caramuru (PR). Das duas temporadas, foram poucos os meses em que ele viu o salário cair na sua conta. 

"Isso atrapalha a cabeça e nosso rendimento fica instável. A gente não sabe se pensa na estratégia de bloqueio, no que o levantador do outro lado vai fazer ou nas contas que estão chegando", comenta o jogador. 

No meio da última temporada, quando defendia o Caramuru, ele viu a situação se tornar insustentável, sendo forçado a sair do país para defender o Almeria (ESP). "Fiquei abatido, foram dois anos ruins. Sei que o fair play já está acontecendo, mas ainda tem muito para ser melhorado. Os jogadores ficam de mãos atadas. É sempre aquela história de segunda que vem, semana que vem, mês que vem e nada acontece. Não bastou isso acontecer em Canoas, voltei a sofrer com isso no Caramuru", lamenta. 

Na última temporada, times das duas principais divisões não arcaram com seus compromissos como São Judas, o próprio Caramuru e o Corinthians. Quem foi contratado pelas equipes acabou usando comunicados oficiais para externar o ocorrido da última temporada. Estes times, que não teriam condições de jogar a Superliga A e B por não terem comprovado a quitação de débitos, encontraram uma brecha ao disputar a Superliga C, competição sem este tipo de exigências. A dúvida ficará caso um deles se classifique para a Superliga B, já que precisarão pagar todos os débitos para estar de volta no torneio de acesso. 

Pra mim, a CBV poderia e deveria intervir de alguma forma. Fiz contato com a entidade, que respondeu que "tem tentado junto com os clubes das Superligas estabelecer mecanismos de defesa de ambas as partes. Contratos bem redigidos e equidade do regulamento passam como providências necessárias. Por parte dos atletas, cabe a eles, da mesma forma, não atuar sem contrato e garantias legais como prevê a legislação". 

Vida nova

Matheus Alejandro vai vestir a camisa do Fiat Minas na temporada 2019/2020. Entre uma temporada e outra, ele chegou a encaminhar seu acerto com uma equipe de fora do país, quando veio o convite mineiro. "Até brinquei com minha mãe após ter fechado o contrato. A sensação era como se eu estivesse sendo convocado para seleções de base, algo que tive o prazer de vivenciar várias vezes. Voltei a ter aquele brilho nos olhos. O que tenho hoje, ao ter a garantia do salário, deveria ser o certo. Mas acabamos nos acostumando com o fundo do poço, que acabou sendo recorrente pra muita gente. Agora estou vivendo um sonho. Sempre soube, por meio de outros atletas, da estrutura e organização do Minas", agradece. 

Para minimizar os problemas, Alejandro contou com as economias que sempre fez questão de ter, além dos salários do programa do exército, em que faz parte como terceiro sargento. "Sempre fui centrado nesta questão financeira e economizei algum dinheiro desde que era infanto. O Programa de Atletas de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR) é algo fantástico pela estrutura e por investir em várias modalidades. É uma iniciativa que salva atletas. Eles me sustentaram durante uma temporada e meia, foi um grande desafogo. Preciso enaltecer essa iniciativa, que fez a diferença na minha vida", completa.