Crônica

Coluna Esportivamente: Natação com ensinamentos gratuitos e pouco efetivos

Estava na raia logo ao lado da equipe e, quando parou para um breve descanso, se pegou atento às dicas que o técnico passava para a equipe

Por Daniel Ottoni
Publicado em 23 de agosto de 2021 | 11:27
 
 
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Pelo menos uma vez por semana ia ao clube para nadar seus mil metros. Tinha aprendido a nadar na infância, nunca tinha feito parte de equipe, mas sabia dar suas braçadas e não se afogar. Nadava os quatro estilos razoavelmente e todos eles apareciam nos treinos semanais, que o ajudavam a manter uma atividade física constante.

Sempre tinha companhias na água, os atletas da equipe de base do clube. Mas foi em um determinado dia que soube tirar proveito dos companheiros de piscina.

Estava na raia logo ao lado da equipe e, quando parou para um breve descanso, se pegou atento às dicas que o técnico passava para a equipe. Dicas da braçada correta, da respiração ideal, do movimento certo das pernas. Percebeu que fazia muita coisa errada, já que não tinha auxílio de ninguém e as aulas já tinham ficado pra trás há mais de 20 anos. Sabia o básico e olhe lá.

Fingiu não estar ouvindo, olhava para o horizonte mas com o ouvido atento ao que o professor passava de forma bem explicativa e didática. Esperava a turma sair da borda para ele também voltar a dar suas braçadas, tentando aproveitar alguns dos ensinamentos gratuitos e inesperados. 

Não marcava seus tempos, media somente a distância, mas começou a perceber que ficava menos cansado e que chegava mais rápido do outro lado.

Passou a tentar marcar presença duas vezes por semana, sempre no mesmo horário e raia, pra seguir tirar proveito das preciosas dicas do paciente treinador. O problema era quando tinha dúvida, sem poder levantar a mão. 

Foi pego de surpresa quando abriram-se inscrições para um torneio interno de natação do clube, entre os atletas amadores. Não pensou duas vezes e se inscreveu.

A ansiedade foi grande na noite anterior antes de cair na água. Na ânsia da vitória, esqueceu quase tudo que tinha aprendido nos últimos meses, abaixou a cabeça, rodou os braços o mais rápido que pôde e mal respirou para terminar na penúltima colocação.

Nem chegou a olhar para o lado para saber a posição em que poderia estar na raia, foi enganado por ele mesmo, seria mais efetivo se tivesse nadado com calma e com os movimentos coordenados. Imaginou que não daria certo se pensassse demais em cada detalhe.

Saiu da piscina decepcionado com o resultado, chateado com o próprio desempenho e decidiu não mais competir. Voltou para o clube na semana seguinte, sendo informado do fim da equipe de natação. Contenção de despesas. Seguiu com os treinos semanais, sabendo tirar proveito das lições que, agora sim, nunca mais esqueceria.