Sem essa de cair de 'pára'quedas'

Jornalista cria projeto para futebol feminino ser divulgado por quem entende

Natália Andrade conta com ajuda virtual para seguir com trabalho de fomento à modalidade com gigantesco potencial de crescimento

Por Daniel Ottoni
Publicado em 22 de fevereiro de 2021 | 09:52
 
 
Natália lembra que, até 2018, a cobertura do futebol feminino em Minas Gerais era praticamente inexistente Daniela Veiga - Atlético

Trabalhar diretamente com o futebol feminino deu para a jornalista Natália Andrade, de 27 anos, não somente o prazer de fazer o que gosta, mas também a visão de que é preciso que a modalidade esteja cercada por pessoas que conheçam o meio, acompanhem a trajetória de jogadoras e clubes e respirem o cenário.

Natália está dentro do futebol feminino há muitos anos mas foi somente em 2019 que começou a atuar diretamente com coberturas que envolvem, principalmente, os times mineiros. 

Natália quer ir além do que faz atualmente, indo em busca de uma melhor condição para cobrir a modalidade como ela merece. Pensando nisso, ela abriu uma campanha no site Catarse com o nome de 'Onze Minas' para arrecadar recursos que possam ajudá-la a desempenhar melhor seu ofício ao lado do fotógrafo e designer Fábio Xavier.  

"Todo esporte precisa de visibilidade. As pessoas até se interessam pelo futebol feminino, mas não sabem o que está acontecendo. Desconhecem que a final de um campeonato sub-18 teve 8.000 pessoas assistindo pelo My Cujoo em uma segunda-feira de manhã, contando com divulgação dos clubes. A 'Final Majestosa' de 2019, antes da pandemia, levou mais de 20 mil pessoas ao estádio. Queremos jogar uma luz no esporte, ninguém investe em algo que não tem visibilidade. Com essa divulgação, as pessoas vão em busca de um produto melhor, de mais investimento, é um círculo que gira e queremos inverter a ideia de que futebol feminino não tem ajuda porque não tem visibilidade e vice-versa", conta. 

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Para Natália, a credibilidade é um dos diferenciais do seu projeto, sendo feito por que conhece do 'riscado', longe de ser uma situação corriqueira que ainda persiste de muitos 'caindo de pára-quedas' na modalidade. "Uma coisa importante é ter, nesta cobertura, pessoas que acompanham e sabem o que acontece, entendem da modalidade e se interessam. Não é aquela coisa de cobrir quando chega o momento de um clássico ou de uma final. Já trabalhei como comentarista em um jogo em que o narrador não sabia o nome das jogadoras, nem fazia questão de saber. Minas Gerais não conta com um portal especializado do futebol feminino", revela Natália. 

A jornalista indica a realidade da cobertura de São Paulo como um exemplo a ser seguido, um cenário muito à frente de qualquer outro Estado do Brasil. "A Copa do Mundo de 2019 deu uma grande visibilidade para a modalidade, foi um caminho sem volta. Hoje temos TV aberta mostrando o futebol feminino. Algum espaço costuma ser dado somente em momentos de polêmica, quando um time é goleado por 21 a 0, como já aconteceu ou quando um presidente fala que não vai mais pagar os salários das jogadoras. Isso é importante de ser divulgado, mas o esporte vai além disso. O futebol feminino não é essa coisa de mulheres bonitas e guerreiras correndo atrás de uma bola. É uma profissão, o trabalho de muita gente", reforça. 

O valor pedido é de R$ 110 mil para ajudar a custear equipamentos, hospedagens em possíveis viagens, deslocamentos e alimentação nos próximos meses, além de pagar o trabalho de quem já tirou do próprio bolso para fazer questão de divulgar o futebol feminino. 

"Queremos viver disso, queremos ampliar o número de pessoas em nosso projeto assim que for possível. No meu primeiro ano de cobertura, eu recebia R$ 50 por texto. Esse valor não pagava, sequer, meu deslocamento de casa para o estádio, às vezes até mais que um estádio no mesmo dia. É muito legal fazermos algo por amor, mas queremos ter uma dedicação exclusiva que não existe em Minas Gerais", completa. 

Natália lembra que, até 2018, a cobertura do futebol feminino no Estado era praticamente inexistente. Em 2019, os clubes foram obrigados a montar equipes de mulheres, sob risco de serem punidos. "Perdemos muita coisa neste tempo, material, história e informações. Jogadoras de nível de seleção que jogaram por aqui, quase não temos registro disso. Queremos evitar que isso aconteça no futuro. Até 2018, não tivemos registro visual dos jogos, não queremos que essa história de agora se perca. O futebol feminino é um esporte como qualquer outro, está na Olimpíada, temos um potencial gigantesco na mão. Queremos divulgar e valorizar a modalidade e o nosso trabalho. Quanto mais gente fala sobre, mais pessoas acreditam na capacidade daquilo, criam uma fidelização e público. Uma iniciativa como esta pode fazer outras surgirem", lembra.